Temer joga BNDES na frigideira da crise política
"Nós temos um novo presidente no BNDES", declarou Michel Temer às duas dezenas de governadores e vice-governadores recebidos para o jantar no Alvorada, na noite desta terça-feira. Embora fosse de conhecimento geral que Paulo Rabello de Castro ocupara o assento de Maria Silvia Bastos havia 18 dias, a proclamação do anfitrião soou como uma espécie de abracadabra para a caverna das verbas públicas. Com o mandato em chamas, disposto a tudo para barrar na Câmara a denúncia criminal em que a Procuradoria o acusará de corrupção, Temer jogou o bom e velho BNDES na fogueira.
As palavras de Temer e Rabello de Castro transformaram o jantar numa imensa sobremesa. O humor dos governadores, que exercem certa influência sobre os deputados que enterrarão a denúncia contra Temer, foi adoçado com o pudim da repactuação das dívidas dos Estados com o BNDES. Coisa de R$ 50 bilhões. Maria Silvia escondera a chave do cofre. O "novo presidente" promote que tudo estará resolvido antes da primavera, que chega em 22 de setembro.
Por mal dos pecados, setembro também é o mês em que Rodrigo Janot, o algoz de Temer, deixará a poltrona de procurador-geral da República. Ficou subentendido que o mandato do presidente precisa sobreviver a Janot para que o entendimento com o BNDES prospere, raciocinou um dos participantes do repasto, em conversa com o blog. A maioria dos governadores está com a corda no pescoço. Alguns estão também com a Lava Jato nos calcanhares. De modo que surgiu na noite do Alvorada uma solidariedade mútua e instantânea entre anfitrião e comensais.
Dos R$ 50 bilhões que os Estados devem ao BNDES, algo como R$ 30 bilhões referem-se a empréstimos que só podem ser renegociados mediante aval do Tesouro Nacional. Estavam no jantar, entre outros ministros, o titular da Fazenda, Henrique Meirelles. Ele teve o cuidado de levar a tiracolo a escudeira Ana Paula Vescovi, secretária Nacional do Tesouro. O repasto oferecido por Temer pode ajudar em muitas coisas. Mas não orna com a austeridade de que Meirelles e Ana Paula precisam para entregar as metas fiscais que prometeram.
A delação do Grupo JBS inaugurou um espetáculo novo em Brasília. O enredo é muito parecido com o que foi encenado por Dilma Rousseff. Com uma diferença: madame era antipática e caiu. Seu substituto gosta de conversar. E sabe como agradar os interlocutores: "Nós temos um novo presidente no BNDES."
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.