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Josias de Souza

Condenação de Lula deve expor divisões do PT

Josias de Souza

19/06/2017 03h57

Para a cúpula do PT, o destino penal de Lula deixou de ser um imprevisto. Todo o alto comando da legenda avalia que o líder máximo do petismo está prestes a se tornar o primeiro ex-presidente da história a amargar uma condenação criminal. Paradoxalmente, o partido não se preparou para o previsto. Um membro do diretório nacional do PT, estudioso das diferentes tendências que coabitam a agremiação, prevê que a sentença de Sergio Moro no caso do tríplex "abrirá as comportas da barragem partidária que impede as opiniões divergentes de escorrer."

Termina nesta terça-feira (20) o prazo para a defesa de Lula entregar a Sergio Moro a petição com as alegações finais dos advogados. O juiz da Lava Jato estará, então, liberado para preferir sua primeira sentença num caso envolvendo Lula. Confirmando-se a condenação, o pajé do PT iniciará uma corrida contra o relógio. Na hipótese de o tribunal federal da segunda instância (TRF-4) endossar o veredicto, Lula ficará inelegível para a disputa presidencial de 2018. E se tornará um candidato imbatível ao cumprimento imediato da pena que Moro vier a lhe impor —incluindo a prisão, se prevalecer a posição defendida pelo Ministério Público Federal.

O planejamento da reação do PT não ultrapassou a fase dos ataques a Moro e aos procuradores da força-tarefa de Curitiba. O PT tratará Lula como um perseguido político da infantaria da Lava Jato, não como um corrupto. No mais, não há consenso quanto à estratégia a ser adotada. Há divergências até mesmo entre os integrantes da tendência majoritária, à qual pertence Lula. Chama-se Construindo um Novo Brasil (CNB). Uma ala, por ora minoritária, defende que o PT se junte à caravana do presidenciável Ciro Gomes, do PDT. Outro grupo prefere uma candidatura própria, a ser alavancada pelo que resta de prestígio a Lula, primeiro colocado nas sondagens eleitorais.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.