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Josias de Souza

Denunciado, Temer repete coreografia de Dilma

Josias de Souza

26/06/2017 20h12

Vai começar tudo de novo. A exemplo do que fez com Dilma Rousseff, a Câmara terá que decidir se autoriza ou não a abertura de processo contra Michel Temer. A diferença é que Dilma foi acusada de crime de responsabilidade. Temer responderá por crime comum: corrupção passiva. Coube ao Senado condenar Dilma, enviando-a para casa mais cedo. Temer será julgado, se os deputados permitirem, pelo Supremo Tribunal Federal.

Temer repete a coreografia de Dilma. Compra com cargos e verbas os votos de que precisa. Se conseguir seduzir 172 deputados, o Planalto conseguirá impedir que o outro lado obtenha os 342 votos necessários para autorizar o Supremo a abrir uma ação penal contra Temer. O governo espera contar com a cumplicidade a legião de parlamentares corruptos que aguardam por uma sentença na luxuosa fila do foro privilegiado.

O presidente declarou que seu governo toca reformas modernizadoras e que não há nenhum Plano B. Em timbre desafiador, disse: "Nada nos destruirá. Nem a mim nem aos meus ministros." Está claro que Temer fará o que for necessário para se salvar. Resta saber se haverá em Brasília quem queira salvar o país. Ao ensaiar a tese de que as reformas se sobrepõem à imoralidade, Temer no fundo está pedindo ao brasileiro que faça como ele: se finja de bobo pelo bem da modernização da CLT e da Previvência.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.