Topo

Josias de Souza

Renan mostra que o torniquete virou hemorragia

Josias de Souza

28/06/2017 18h57


Empurrado para fora da liderança do PMDB no Senado, Renan Calheiros saiu batendo a porta. Chamou Michel Temer de "covarde" e disse que Eduardo Cunha manda no governo a partir da cadeia. Como se fosse pouco, insinuou que é verdadeira a acusação do delator Joesley Batista de que Temer avalizou a compra do silêncio de Cunha.

Do alto da tribuna do Senado, Renan fez pose de benfeitor dos trabalhadores, atacando Temer por levar a ferro e fogo a reforma trabalhista. Em verdade, o senador se fantasia de militante da CUT porque sua reeleição ao Senado, em 2018, corre riscos. Ao se reposicionar em cena, Renan comporta-se como criança que brinca no barro depois do banho.

Réu no Supremo, Renan revela sua vocação para piada ao sugerir a saída de Temer. Há seis meses, pegou em lanças contra despacho judicial do ministro Marco Aurélio Mello, do STF, ordenando que deixasse a poltrona de presidente do Senado. Investigado em 11 inquéritos, Renan corre o risco provocar uma epidemia de risadas com suas críticas a Cunha.

A consolidação do rompimento de Renan com Temer desce à crônica da deterioração política do país como uma evidência de que a operação torniquete desandou. A turma que tramava "estacar a sangria", na célebre definição de Romero Jucá, chega ao São João de 2017 como uma quadrilha hemorrágica.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.