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Josias de Souza

Planalto usa frase de Janot para barrar denúncia

Josias de Souza

03/07/2017 04h54

Os operadores políticos de Michel Temer utilizarão um comentário feito por Rodrigo Janot para reforçar na Câmara a pregação a favor do arquivamento da denúncia do procurador-geral da República contra o presidente. "Enquanto houver bambu, lá vai flecha", disse Janot no último sábado, num congresso de jornalismo. "Até 17 de setembro, a caneta está na minha mão." Aproveitando-se do fato de que há seis dezenas de deputados enrolados na Lava na Jato, o Planalto difunde a tese de que a Câmara precisa impor limites ao ânimo de Janot. E aposta que o medo coletivo potencializará a tendência de sepultamento da denúncia.

O governo age em duas frentes. Numa, realiza o mapeamento dos votos na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), palco da primeira batalha. Tenta identificar potenciais traidores e isolar a oposição. Noutra, aposta no potencial da defesa preparada pelo advogado Antônio Cláudio Mariz, para desqualificar juridicamente a acusação de corrupção passiva. No front político, a prioridade fixada em conversas que Temer manteve no final de semana é conter os arroubos do presidente da CCJ, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), convencendo-o a nomear como realtor do processo o preferido do Planalto: Jones Martins (PMDB-RS).

Diante do risco real de conversão da primeira denúncia em pó antes que o Supremo Tribunal Federal possa se debruçar sobre a peça, a Procuradoria-Geral da República prepara as próximas fechadas. Equipa-se para acusar Temer de obstrução de Justiça. A flecha deve ser disparada em agosto. E virá com a ponta molhada no curare, um veneno paralisante. Os índios extraem a substâncias das plantas. Janot espera obtê-la da delação do doleiro Lúcio Funaro, que negocia os termos de sua colaboração com a força-tarefa da Lava Jato, em Brasília.

Operador financeiro de Eduardo Cunha, Funaro foi mencionado na conversa gravada de Joesley Batista, da JBS, com Temer. Na visão de Janot, contestada pela defesa do presidente, o áudio comprovaria que o inquilino do Jaburu avalizou a compra do silêncio dos presidiários Cunha e Funaro. Espera-se que a novo delator reforce essa linha de argumentação. De resto, Janot terá até setembro para concluir pelo menos mais uma denúncia contra Temer, por formação de organização criminosa junto com outos pajés do PMDB.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.