Temer já atende políticos em ritmo de fast food
A necessidade de deter na Câmara a denúncia que o acusa de corrupto levou Michel Temer a escancarar o paradoxo do seu governo. O presidente se propõe a reformar as bases econômicas do país. Para fazer isso, precisa manter-se no cargo. E decidiu lutar pela sobrevivência cultivando os vícios que potencializam as negociatas e os trambiques com verbas públicas. Temer recebe políticos em ritmo de lanchonete fast food. Serve cargos e verbas num bandejão que dá à sua gestão a aparência melancólica de uma central de escândalos.
Nesta terça-feira, dia em que começa a caminhar na Câmara a denúncia da Procuradoria-Geral da República, Temer enfileirou em sua agenda 21 audiências com parlamentares. Desse total, 16 são deputados, seis dos quais integram a Comissão de Constituição e Justiça. Ali, o Planalto travará sua primeira batalha para tentar asfixiar a denúncia contra Temer, sonegando ao Supremo Tribunal Federal a oportunidade de avaliar se há elementos para a abertura de uma ação penal que afastaria o presidente do cargo por pelo menos seis meses.
Numa evidência de que o governo reformista passou a existir apenas no gogó, Temer havia inaugurado a semana com uma audiência que simboliza a perda definitiva do recato. Na mesma segunda-feira em que a Polícia Federal prendeu o ex-ministro Geddel Vieira Lima, o presidente recebeu reservadamente no Planalto o ex-deputado Valdemar Costa Neto, um mensaleiro que controla o PR como se fosse um feudo cartorial. Ele estava acompanhado do ministro Maurício Quintella Lessa, que gerencia os negócios da pasta dos Transportes em nome do PR.
Além de Temer, também os ministros palacianos se desdobram para atender parlamentares. Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) recebeu uma comitiva de 16 deputados e três senadores catarinenses. Foram pedir a liberação de verbas para rodovias no Estado. Entre os visitantes, quatro são membros da Comissão de Constituição e Justiça.
Outro ministro, Antonio Imbassahy, um tucano que substituiu Geddel na coordenação política do governo, além de acompanhar Temer em algumas conversas, recebeu a sós mais quatro deputados.
Alega-se que o Planalto não ultrapassa as fronteiras da negociação republicana. Mas esse lero-lero vem sendo reiterado desde a primeira missa. E o brasileiro assiste a um espetáculo de depravação moral que só piora o catecismo. Renovam-se a cada governo as alianças espúrias. A tolerância com os maus hábitos levou à corrupção endêmica que operações como a Lava Jato desvendam. E Temer parece não ter aprendido a clara lição de que a velha tática já não funciona.
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