Topo

Josias de Souza

Temer pede pressa a Maia, que finge concordar

Josias de Souza

11/07/2017 19h25

Michel Temer chamou Rodrigo Maia para uma conversa na noite de segunda-feira. Com o mandato balançando, o presidente fez um pedido ao comandante da Câmara, que já se comporta como pretendente ao trono. Temer rogou a Maia que apresse a tramitação da denúncia que o acusa de corrupção. Gostaria de enterrar o assunto no plenário da Câmara nesta sexta-feira (14).

Menos de 24 horas depois, Rodrigo Maia simulou empenho. Em entrevista, o presidente da Câmara declarou nesta quarta-feira: "Espero que a gente consiga votar essa matéria o mais breve possível." Longe dos refletores, o deputado diz aos seus interlocutores que não apressará o ritmo da carruagem. Atribui ao Planalto a tarefa de evitar que a votação da denúncia fique para agosto, mês de mau agouro.

Filiado ao PMDB de Temer, o presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Rodrigo Pacheco, também não parece ter pressa. Avisou aos governistas que não cogita censurar os deputados que quiserem discursar. Acha improvável que a comissão vote a denúncia contra Temer até quinta. Estima que o debate se arrastará até sexta. Se estiver certo, a coisa só vai ao plenário na semana que vem, a última antes do recesso.

Começará, então, o jogo de esconde-esconde. A banda oposicionista da Câmara precisa colocar em plenário 342 votos se quiser aprovar a autorização para que o Supremo Tribunal Federal transforme a denúncia contra Temer em ação penal, afastando-o do cargo por pelo menos seis meses. Ao Planalto, basta obter 172 aliados. Que não precisam comparecer ao plenário. Nesse jogo, ausência e abstenção contam a favor de Temer.

Deve-se a pressa de Temer ao medo que o presidente tem das delações tóxicas que estão por vir. Entre elas a do doleiro Lúcio Funaro e, sobretudo, a do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha. Ironicamente, Temer luta para enterrar uma denúncia sabendo que terá pela frente outras duas acusações da Procuradoria. Para se manter na Presidência, Temer terá de assumir sua condição de coveiro de evidências. Ou, por outra, passará à história como um assassino serial de escândalos. Enterra-os vivos.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.