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Josias de Souza

Otimista, Temer age para evitar vitória mixuruca

Josias de Souza

01/08/2017 05h22

A impressão de que Michel Temer se encaminha para celebrar o arquivamento da denúncia que o acusa de corrupção é real. Mas o otimismo do Planalto está escorado numa realidade incompleta. Às vésperas da votação no plenário da Câmara, o presidente ainda se esforça para evitar um triunfo à moda do rei Pirro. O personagem derrotou os romanos na célebre batalha de Ásculo. Porém, amargou tantas baixas em seu Exército que teria exclamado: Outra vitória como esta será a minha ruína!

A autorização para que o Supremo Tribunal Federal dê sequência à denúncia contra Temer requer dois terços dos votos da Câmara. Isso equivale a 342 votos. O presidente precisa que apenas 172 deputados votem a seu favor ou se ausentem da sessão para impedir que seus rivais alcancem o número mágico. Mas para evitar que o sepultamento da denúncia se converta numa "Vitória de Pirro", Temer teria de levar ao painel eletrônico da Câmara algo próximo de 300 votos. Por ora, estima que dispõe de cerca de 250. E tenta cooptar o restante.

No ano passado, o governo contabilizava 411 aliados na Câmara. Desde que Temer foi alvejado pela delação da JBS, a máquina estatal foi colocada a serviço do acobertamento da corrupção que a Procuradoria grudou no presidente. O Planalto levou às fronteiras do paroxismo a velha tática de distribuir verbas e cargos. Mandou às favas o recato. Se depois de tudo isso Temer sobreviver com uma tropa mixuruca, seu êxito mal se distinguirá de uma derrota.

Primo de Alexandre, o Grande, o rei Pirro amealhou no século 3º a.C. uma fama de militar valoroso. Entretanto, acabou expulso da península itálica. E passou à história como símbolo de vitórias com sabor de derrota. Temer costuma vangloriar-se de suas habilidades de articulador político. O balcão escancarado anabolizou-lhe o talento. Com uma segunda denúncia da Procuradoria da República no forno, um placar pírrico manteria o pescoço de Temer na guilhotina.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.