Câmara institucionaliza a obstrução de Justiça
Um ano e três meses depois de aprovar a abertura do processo de impeachment de Dilma Rousseff, a Câmara livrou Michel Temer de uma ação criminal que poderia custar-lhe o mandato. Com essa decisão, os deputados leais ao presidente entraram para a história em posição constrangedora: de cócoras.
Autoconvertido no primeiro presidente a ser denunciado por corrupção no exercício do cargo, Temer comprou lealdades com verbas, cargos e favores. Em troca, exigiu dos aliados que se comportassem como cegos.
Criou-se no plenário uma atmosfera de faz-de-conta que transformou a Câmara num tipo especial de cúmplice, que tem o poder de obstruir a Justiça, sonegando ao Supremo Tribunal Federal a oportunidade de analisar a denúncia formulada pelo procurador-geral da República Rodrigo Janot.
Na prática, as acusações contra Temer foram acomodadas no freezer. Contra a vontade da grossa maioria dos brasileiros, protelou-se o veredicto para depois do término do mandato presidencial.
De ineditismo em ineditismo, o Brasil vai revelando uma inusitada queda pelo latim. Tornou-se um país sui generis, comandado por um presidente cuja honestidade está sub judici.
Num ambiente assim, ficou fácil para os deputados demonstrar sua altivez no plenário: bastou ficar de cócoras.
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