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Josias de Souza

Câmara institucionaliza a obstrução de Justiça

Josias de Souza

02/08/2017 20h28

Um ano e três meses depois de aprovar a abertura do processo de impeachment de Dilma Rousseff, a Câmara livrou Michel Temer de uma ação criminal que poderia custar-lhe o mandato. Com essa decisão, os deputados leais ao presidente entraram para a história em posição constrangedora: de cócoras.

Autoconvertido no primeiro presidente a ser denunciado por corrupção no exercício do cargo, Temer comprou lealdades com verbas, cargos e favores. Em troca, exigiu dos aliados que se comportassem como cegos.

Criou-se no plenário uma atmosfera de faz-de-conta que transformou a Câmara num tipo especial de cúmplice, que tem o poder de obstruir a Justiça, sonegando ao Supremo Tribunal Federal a oportunidade de analisar a denúncia formulada pelo procurador-geral da República Rodrigo Janot.

Na prática, as acusações contra Temer foram acomodadas no freezer. Contra a vontade da grossa maioria dos brasileiros, protelou-se o veredicto para depois do término do mandato presidencial.

De ineditismo em ineditismo, o Brasil vai revelando uma inusitada queda pelo latim. Tornou-se um país sui generis, comandado por um presidente cuja honestidade está sub judici.

Num ambiente assim, ficou fácil para os deputados demonstrar sua altivez no plenário: bastou ficar de cócoras.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.