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Josias de Souza

Temer recusa ideia de punir ‘infidelidade’ tucana

Josias de Souza

03/08/2017 16h36

Michel Temer mal teve tempo de degustar a vitória obtida no plenário da Câmara na noite de quarta-feira e seus aliados já apresentaram uma nova conta. Leais ao Planalto na votação que enterrou a denúncia por corrupção contra o presidente, legendas do chamado centrão reivindicam ministérios ocupados pelo PSDB. Em privado, Temer avisou que, embora não tenha digerido os 21 votos de deputados tucanos a favor da continuidade do processo —não cogita punir a "infidelidade". Ao contrário, tentará restaurar a unidade dos tucanos em torno da agenda de reformas do governo.

Ao assumir a Presidência, após a deposição de Dilma Rousseff, Temer agiu para dissolver o centrão, um aglomerado político composto por legendas como PP, PR, PSD e PTB. Nessa época, guindou o PSDB à condição de aliado preferencial do seu governo, aquinhoando a legenda com quatro ministérios. Para salvar o próprio mandato, Temer viu-se compelido a reagrupar o centrão, grupo que gravitava em torno do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.

Já vitaminado com doses extraordinárias de verbas e cargos, o centrão pega em lanças para reaver espaços que ocupava sob Dilma. Temer terá trabalho para domar o monstrengo que ressuscitou. O principal alvo do grupo é o Ministério das Cidades, hoje ocupado pelo tucano Bruno Araújo. Reivindicam a pasta PSD e, sobretudo, o PP. Líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), que chefiou a pasta na gestão Dilma, sonha em retornar à Esplanada.

Além de Bruno Araújo, foi à alça de mira do centrão o ministro tucano Antonio Imbassahy (Relações Institucionais). Ele atua como coordenador político do Planalto. "Não faz sentido que permaneça na função", afirma um expoente do grupo leal a Temer. "Já sabíamos que o Imbassahy não coordenava muita coisa. Agora, verificou-se que não coordena nem os votos da bancada do PSDB, seu partido. O Michel [Temer] cometerá um erro grave se não promover ajustes na sua equipe. Ficará claro que a fidelidade não vale a pena."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.