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Josias de Souza

Sob risco de prisão, Lula vaticina: ‘Vamos voltar’

Josias de Souza

05/08/2017 03h25

Lula passou a sexta-feira na Zona Sul da cidade de São Paulo. À noite, discursou para uma plateia companheira num evento do PT. Condenado a 9 anos e 6 meses de cadeia, ignorou o risco de prisão que o assedia para vaticinar: "Esperem as eleições de 2018, que nós vamos voltar…"

Septuagenário, o pajé do petismo revelou que, para se manter em forma, costuma exercitar outros músculos além da língua: "Tenho 71 anos de idade. Estou novo, garotão. Faço duas horas de ginástica por dia. Levanto às cinco da manhã. Estou quase ficando bombado. Faço 7 km todo dia, além da musculação —faça chuva ou faça sol. Quero mostrar que um velhinho de 72 anos, com tesão por esse país, vai fazer muito mais do que um jovem sem tesão."

Sem mencionar a Lava Jato, Lula voltou a fazer pose de perseguido político. Em timbre megalomaníaco, insinuou que seus algozes prejudicam toda a população brasileira: "…Se eles querem fazer alguma coisa comigo, se eles querem evitar que eu tenha a possibilidade de concorrer em 2018, se eles querem julgar o meu governo é uma coisa. O que eles não podem —por uma questão moral, política, de decência e de respeito —é, para me prejudicar, prejudicarem 204 milhões de brasileiros, sobretudo a maioria do povo trabalhador…"

Réu em cinco ações penais, já sentenciado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Lula disse coisas assim: "Se tiver corrupção, tem que ser preso quem roubar. Empresário roubou, tem que ser preso. Político roubou, tem que ser preso. Juiz roubou, tem que ser preso. Qualquer um que roubar." No caso do PT, disse o oligarca da legenda, o que mais incomodou os rivais não foi a corrupção, mas a ascensão social dos pobres.

Escorando-se em autocritérios, Lula jactou-se de sua ex-presidência. "O Brasil era respeitado internacionalmente. O Brasil ficou um país popstar, mais do que o Neymar está hoje. As pessoas só falavam do Brasil lá fora." O ex-soberano não notou. Mas o Brasil continua falado no estrangeiro. Desde o mensalão, o país está pendurado de ponta-cabeça nas manchetes como uma das nações mais corruptas do planeta.

Mais próximo das grades do que das urnas, Lula ameaçou a turma da Lava Jato. "Eu vou processá-los por danos morais. A coisa não fica barata, não. Eles não sabem o que é mexer com Garanhuns. Se tem político com rabo preso e está com medo, é problema de quem está com rabo preso. Se tem político que não quer abanar o rabo porque está com medo, é problema dele. Comigo eles vão ter que provar, custe o que custear, demore o quanto demorar."

Ao se despedir da plateia, Lula flechou Michel Temer, que celebra o sepultamento na Câmara da denúncia em que a Procuradoria o acusa de corrupção passiva: "O Temer, que gastou anteontem R$ 14 bilhões para comprar 260 votos, não perde por esperar. Até a vitória do nosso partido!"

Acomodado por Lula na chapa de Dilma Rousseff, hoje reduzida à condição de cuidadora dos netos, Temer realmente revelou-se mais jeitoso do que a antecessora no gerenciamento do balcão. O difícil será superar o próprio Lula, que comprou o Legislativo durante oito anos, servindo aos aliados rações regulares de mensalão e de petrolão. (veja abaixo o discurso de Lula, antecedido por manifestação da presidente do PT, Gleisi Hoffmann)

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.