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Josias de Souza

PSDB ensina: é errando que se aprende. A errar!

Josias de Souza

09/08/2017 17h59

O PSDB reuniu nesta quarta-feira sua Executiva Nacional. O encontro ocorreu no instante em que está no ar uma inusitada propaganda televisiva do partido. Nela, o tucanato reconhece que errou. Mas se abstém de dizer quais foram os seus pecados. Limita-se a convocar a plateia para assistir ao programa de dez minutos que será exibido na quinta-feira da semana que vem. Licenciado da presidência da legenda, Aécio Neves participou do pedaço inicial da reunião.

Ao sair, Aécio disse aos repórteres a Executiva tucana foi convocada para "iniciar uma transição extremamente harmoniosa." Deu a entender que ainda dá as cartas: "Indiquei o senador Tasso [Jereissati] como presidente interino do partido nesta transição." Fez questão de realçar: "É uma transição absolutamente pacífica."

Quer dizer: tomado pelas palavras, Aécio não considera que o OSDB erra ao tolerar os seus desvios. Fala como se tivesse decidido, numa linda manhã, confiar a Tasso Jereissati o comando interino do partido. Esquece de mencionar (ou lembra de omitir) que foi empurrado para essa posição pela escandalosa descoberta de que recebeu R$ 2 milhões do delator Joesley Batista por baixo da mesa.

"Continuarei ao lado do senador Tasso e da Executiva", declarou Aécio. Logo ficará demostrado, disse ele, que o PSDB é "o partido mais apto a liderar um grande tempo de mudanças estruturais no país." Hã, hã…

Instado a comentar o comercial em que o partido diz ter cometido erros, Aécio escorregou: "Não participei dessa elaboração. Acho que é uma tentativa de uma reconexão do PSDB com a sociedade. […] Acho que é uma tentativa, do ponto de vista de comunicação, de mostrar que, além dos acertos que nós tivemos e não foram poucos, certamente alguns equívocos o PSDB cometeu."

Quais equívocos?, insistiu um repórter. E Aécio: "Eu não participei da elaboração do programa e, provavelmente, o senador Tasso terá as melhores condições, já que deleguei a ele há algumas semanas essa condição."

Ouvido, Tasso também disse coisas definitivas sem definir muito bem as coisas. Esquivou-se de inventariar os erros. "Todos os partidos políticos estão no momento certo de fazer um mea culpa, é tapar o sol com a peneira dizer que não existe uma grande insatisfação da população brasileira com a classe política." Aécio ecoou: "Acho que é uma tentativa de uma reconexão do PSDB com a sociedade."

Cliente de caderneta do Supremo Tribunal Federal, Aécio coleciona nove inquéritos. A relação "harmoniosa" e "pacífica" que ainda mantém com o PSDB indica que o tucanato tornou-se um aglomerado capaz de tudo, menos de se reconectar com a sociedade. Por ora, o ninho ensinou ao país apenas que é errando que se aprende… A errar. Logo, logo Aécio será saudado nos encontros partidários como "herói do povo brasileiro."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.