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Josias de Souza

PSDB já tem sua dupla caipira: Azeredo e Aécio

Josias de Souza

23/08/2017 04h21

O PSDB ainda não escolheu um candidato à Presidência da República. Mas já dispõe de bons animadores de palanque: Azeredo e Aécio. Eles podem percorrer o Brasil em 2018 como uma dupla caipira, cantando modas de viola sobre a grande missão inconsciente do tucanato de desnudar a corrupção, como quem desvenda os crimes da política cometendo-os.

Na noite desta terça-feira, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais manteve a condenação de Eduardo Azeredo no célebre caso do mensalão do PSDB mineiro. Pegou 20 anos de cana como beneficiário de uma valeriana de R$ 11,7 milhões. Não é um bom exemplo. Mas é um ótimo aviso para Aécio Neves, já denunciado no Supremo Tribunal Federal pelo recebimento de uma joesliana de R$ 2 milhões.

A exemplo de Aécio, Azeredo presidia o PSDB federal quando foi pilhado e pendurado nas manchetes de ponta-cabeça, em 2005. Ambos receberam a solidariedade e o acobertamento do partido. Tornaram-se dois tucanos muito úteis ao tucanato, pois ajudam o PSDB a enxergar a si mesmo, desconstruindo-se defronte do espelho. O partido distancia-se da Presidência. Mas aproxima-se da descoberta de sua real vocação.

Suicida didático, o PSDB ensina inconscientemente aos brasileiros que, em política, nada se cria, nada se copia, tudo se corrompe. Fundado por dissidentes que abandonaram o PMDB para não conviver com os maus hábitos de gente como Orestes Quércia, é natural que o tucanato retorne às origens sob Michel Temer.

É como se o partido da dupla caipira Azeredo e Aécio quisesse orientar a plateia com sua desorientação. O grosso do eleitorado continua sem saber em quem votar. Mas pelo menos já aprendeu com o PSDB que a corrupção não diferencia os partidos políticos. Ao contrário, vincula-os.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.