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Josias de Souza

Funaro: Temer recebeu e intermediou propinas

Josias de Souza

08/09/2017 03h38

Em delação já homologada pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, o doleiro e operador de propinas Lúcio Funaro contou que Michel Temer "sempre soube" do esquema de coleta de dinheiro sujo montado por Eduardo Cunha. Mencionou três episódios nos quais Temer atuou como intermediário ou beneficiário de propinas que somam R$ 13,5 milhões.

De acordo notícia veiculada pela revista Veja, Funaro relatou à Procuradoria-Geral da República que Temer recebeu propina de R$ 1,5 milhão proveniente do grupo Bertin. O doleiro afirmou ter intermediado pagamento ilícito de R$ 7 milhões da JBS destinado a Temer, Cunha e o ministro da Agricultura da época: Antônio Andrade, hoje vice-governador de Minas Gerais.

Funaro declarou, de resto, que Temer obteve R$ 5 milhões do empresário Henrique Constantino, do Grupo Constatino. A verba foi borrifada em 2012 na caixa registradora da campanha do então peemedebista Gabriel Chalita à prefeitura de São Paulo.

O doleiro esclareceu que não conversou sobre dinheiro diretamente com Temer. Essa era uma atribuição de Eduardo Cunha. Segundo Funaro, Cunha o mantinha informado sobre a divisão das propinas. "Temer participava do esquema de arrecadações de valores ilícitos dentro do PMDB", disse. "Cunha narrava as tratativas e as divisões [de dinheiro] com Temer."

Funaro também enredou em sua delação três integrantes da patota política de Temer: o ministro palaciano Moreira Franco e os ex-ministros Henrique Eduardo Alves, preso no Rio Grande do Norte, e Geddel Vieira Lima, que a Polícia Federal acusa de esconder os R$ 51 milhões apreendidos num bunker residencial de Salvador.

O operador de propinas vinculou a trinca de amigos de Temer a fraudes em negócios trançados na Caixa Econômica Federal. Numa única operação envolvendo o grupo Bertin, em 2009, o ministro Moreira Franco amealhou R$ 6 milhões, acusou Funaro.

Prestes a perder a imunidade penal obtida em acordo de colaboração judicial, o empresário Joesley Batista, da JBS, foi acusado de oferecer R$ 100 milhões pelo  silêncio de Funaro. Segundo o doleiro, só foram efetivamente pagos R$ 4,6 milhões. Os repasses foram interrompidos depois que Joesley tornou-se, ele próprio, um delator.

Funaro forneceu aos procuradores sua versão sobre o misterioso episódio que envolve os R$ 10 milhões que Marcelo Odebrecht, mordido pelo próprio Temer num jantar no Jaburu, entregou a políticos do grupo do presidente. Parte desse valor —R$ 4 milhões— foi repassado para um velho amigo de Temer, o ministro palaciano Eliseu Padilha. Os outros R$ 6 milhões foram para o caixa dois da malograda campanha de Paulo Skaf, presidente da Fiesp, ao governo de São Paulo.

Funaro declarou que, em maio de 2014, foi acionado pelo ex-ministro Geddel Vieira Lima. A pedido dele, retirou R$ 1 milhão no escritório de outro amigão de Temer, o advogado José Yunes. Esse pedaço da verba provida pela Odebrecht foi entregue a Geddel, em dinheiro vivo, na capital baiana.

A delação de Funaro complicou a vida penal do ex-amigo Eduardo Cunha. O doleiro entregou os dados referentes a uma conta de Cunha no exterior —mais uma, que os investigadores desconheciam. Batizada de "Glorieta LLP", foi aberta no banco Northern Trust Bank, em Nova York, em nome de uma offshore. Funaro disse ter feito depósitos nesta entre 2003 e 2006.

De acordo com o delator, Cunha comprava com dinheiro de propina o apoio da milícia parlamentar que o apoiava na Câmara. Citou 25 deputados que estavam na caderneta de Cunha.

Funaro também declarou que, no ano passado, durante a tramitação do processo de impeachment contra Dilma, Cunha e Temer "confabulavam diariamente". Na véspera da votação em que os deputados aprovaram a abertura do processo, Cunha procurou Funaro para pedir dinheiro. Queria comprar votos contra Dilma. Funaro diz ter repassado o dinheiro.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.