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Josias de Souza

Defesa da Constituição ou apego à impunidade?

Josias de Souza

28/09/2017 20h45

Uma das vítimas da atual crise moral é a semântica. Quando os senadores chamam a gritaria contra as restrições que o Supremo Tribunal Federal impôs a Aécio Neves de defesa da Constituição, você sabe que está diante de uma crise de significado ou numa roda de cínicos. Quando a supostra defesa da Constituição tem como principal porta-voz o senador Renan Calheiros, você percebe que a crise de significado é terminal.

Quatro dezenas de senadores investigados no Supremo circulam pelo Senado como se nada tivesse sido descoberto sobre eles. Desmascarados, continuam apresentando projetos, votando leis, mordendo verbas do orçamento e indicando apadrinhados para cargos públicos. Além do escudo do foro privilegiado, protegem-se uns aos outros.

O Senado e seus investigados tomam as dores de Aécio Neves num esforço para voltar à rotina pré-Lava Jato, restabelecendo a imensa margem de manobra que assegurava a autoproteção do sistema político. Os senadores querem voltar a um tempo em que eles mesmos faziam as leis, eles mesmos cometiam os crimes, eles mesmos se absolviam nos seus conselhos de ética. Nesse mundo particular que os senadores querem de volta, a defesa da Constituição vira um outro nome para a luta pela impunidade.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.