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Josias de Souza

Suposta prosperidade não dispensa honestidade

Josias de Souza

02/10/2017 21h16

Num instante em que a Câmara inicia o funeral da segunda denúncia criminal contra Michel Temer, a procuradora-geral da República Raquel Dodge pede ao Supremo Tribunal Federal que autorize a Polícia Federal a interrogar o presidente da República. Deseja-se ouvi-lo sobre a suspeita de recebimento de propina da Rodrimar, empresa que atua no Porto de Santos. Ou seja: a ocultação de cadáveres não impedirá que o melado continue escorrendo.

A reputação dos políticos é o resultado da soma dos palavrões que eles inspiram nos bares, nas calçadas, nas salas de visita. Pesquisa do Datafolha ajuda a entender o mau humor. O brasileiro rejeita a ideia do mal menor, do 'rouba, mas faz': 74% disseram discordar da tese segundo a qual "se um governante administra bem o país, não importa se ele é corrupto ou não."

O Datafolha informa que 89% dos brasileiros são favoráveis à abertura de investigação contra Temer por formação de organização criminosa e obstrução à Justiça. O presidente dá de ombros. Sua equipe diz que tudo vai melhorar, pois a economia reage e o Planalto prepara campanha de marketing para apresentar Temer como presidente da virada. É como se Temer considerasse que a suposta prosperidade dispensa o governante da honestidade. É mesmo inesgotável o desejo de fazer o brasileiro de idiota. Mas começa a faltar material.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.