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Josias de Souza

Cármen Lúcia critica juízes que fazem ‘manifestações muito além dos autos’

Josias de Souza

24/10/2017 16h37

A ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal, criticou nesta terça-feira os magistrados que frequentam as manchetes como comentaristas de "contingências políticas". Segundo ela, a função de juiz impõe limites éticos para aqueles que a exercem. "São limites que a vida nos impõe, para que tenhamos um marco civilizatório, uma vida em sociedade", declarou Cármen Lúcia.

Ela acrescentou: "Já é passada da hora de discutirmos no Poder Judiciário como um todo —tanto para o STF quanto para a juíza de Espinosa (MG). Não é possível que continuem havendo manifestações muito além dos autos, e dos altos e baixos das contingências políticas da sociedade."

Cármen Lúcia foi além: "Se é certo que o juiz já não fica mais dentro do gabinete, da sua casa, também é certo que há de haver convivência sem que haja qualquer tipo de exorbitância ou desbordamento das suas atividades, porque o Poder Judiciário não dispõe de armas ou de tesouro, mas da confiança da sociedade que o legitima."

As observações de Cármen Lúcia foram feitas durante uma sessão plenária do Conselho Nacional de Justiça, também presidido por ela. Durante a sessão, os conselheiros do CNJ aprovaram por unanimidade a abertura de investigação disciplinar para avaliar a conduta de quatro juízes do Rio de Janeiro: André Luiz Nicolitt, Cristiana de Faria Cordeiro, Rubens Roberto Rebello Casara e Simone Dalila Nacif Lopes.

Os magistrados discursaram, em 2016, num ato político contra o impeachment de Dilma Rousseff, na praia de Copacabana. Em seu voto, o Corregedor Nacional de Justiça, ministro João Otávio de Noronha, anotou: "Ser juiz não é ser um cidadão comum. Implica obedecer a uma série de normas específicas, a exemplo de outras profissões, como a de médico ou de engenheiro."

Supondo que Cármen Lúcia esteja sendo sincera, antes de punir os magistrados anti-impeachment do Rio de Janeiro, o CNJ precisa informar à sociedade o que fará com os ministros da Suprema Corte. As críticas da ministra soaram como se tivessem sido dirigidas a alguns de seus colegas de trabalho. O Conselho Nacional de Justiça vai enquadrar, por exemplo, Gilmar Mendes, autoconvertido em comentarista político? Vai proibir Alexandre de Moraes de exercer as atribuições paralelas de crítico de novelas e bedel do Twitter?

Se não tiver disposição para responder às indagações sobre os ministro do Supremo, o CNJ sujeita-se a ressuscitar o bordão do humorista Bussunda: "Fala séééério!"

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.