Deuses da senzala enviaram Rosa aos arcaicos
Vivo, Drummond diria que há "uma Rosa no caminho". Em verdade, são duas rosas em uma. O acaso atravessou na trilha de Michel Temer rumo ao arcaico Rosa Maria Weber Candiota da Rosa. Na loteria togada em que se converteu o Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber, como é conhecida, foi uma espécie de bilhete premiado escolhido pelos deuses da senzala. Para desassossego da Casa Grande ruralista, a ministra construiu sua carreira de magistrada na Justiça trabalhista.
Antes de chegar ao Supremo, a gaúcha Rosa foi juíza do Trabalho (1981 a 1991), passou pelo Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (1991 a 2006) e envergou a toga de ministra do Tribunal Superior do Trabalho (2006 a 2011). Sorteada relatora da ação contra a portaria de Temer que dificultou o combate ao trabalho escravo, Rosa concedeu a única liminar que orna com a sua biografia. Suspendeu os efeitos do despautério até que o plenário da Suprema Corte se pronuncie. O resultado seria outro se o relator sorteado fosse, digamos, Gilmar Mendes.
Rosa escreveu em seu despacho que as novas regras configuram "um quadro de aparente retrocesso." Como de hábito, a ministra foi elegante no vernáculo. Mais elegante do que os atores da pantomima merecem. Um presidente que persegue a própria impunidade desdenhando da punição de exploradores da miséria alheia é criminoso. Ruralista que constrói simultaneamente uma economia de fantasia para si e uma sociedade mais desigual ao redor é serial killer de direitos. Nos dois casos, os personagens são péssimos exemplos para as crianças.
A liminar de Rosa espargiu boas fragrâncias nos porões apodrecidos do fisiologismo. É uma oportunidade para que o pescoço de Temer e o bolso dos ruralistas percebam que não podem continuar se encontrando do mesmo jeito.
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