Aliados dão canseira em Temer e cobram pagamento antecipado de suas faturas
Os supostos aliados de Michel Temer impuseram um constrangimento adicional ao Planalto na sessão da Câmara que analisa a segunda denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o presidente. Em meio ao temporal político, um pedaço do bloco governista decidiu encharcar Temer antes de abrir o guardachuva. Ausentaram-se do plenário, dificultando a obtenção do quórum mínimo para o início do sepultamento da denúncia que constrange Temer. Fizeram isso para forçar o governo a pagar adiantado o preço do apoio.
Para que a votação começasse, era necessário que pelo menos 342 dos 513 deputados dessem as caras. O quórum se manteve minguado durante toda a manhã e início da tarde. Sem alarde, auxiliares de Temer mantiveram aberto o balcão de trocas. Deputados do baixíssimo clero nunca se sentiram tão valorizados. Muitos foram recebidos no Planalto. Outras, foram alcançados pelo celular. Um deles, que conversou com o blog sob a condição do anonimato, celebrou: "Os ministros nunca me deram bola. Hoje, o próprio Temer me telefonou. Nunca pensei que minha ausência pudesse valer tanto!"
Para complicar, Temer, 77 anos, foi arrancado da articulação por uma contingência: passou mal. Segundo o Planalto, teve uma obstrução urológica. Foi levado para o Hospital das Forças Armadas, em Brasília. Antes de se submeter a exames médicos, Temer conversou por telefone com o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil). Repassou para o auxiliar, também denunciado pela Procuradoria, a missão de procurar quatro deputados com os quais havia se comprometido a conversar.
Com método, a oposição também se ausentou deliberadamente do plenário. Com isso, potencializou o desgaste de Temer. A tática já havia sido adotada em 2 de agosto, quando foi enterrada a primeira denúncia contra o presidente. Naquele dia, porém, vários oposicionistas foram ao microfone para responder a provocações de "soldados" do governo. Não se deram conta de que o discurso servia para contar presença. Dessa vez, ensaiaram melhor.
A oposição contou com um reforço providencial. O pedaço antigovernista do PSDB, composto de 23 deputados, alinhou-se à tática da oposição. Os tucanos decidiram que só colocariam os pés no plenário depois das 16h, depois que o governo conseguisse exibir sua musculatura legislativa –ou o que restou dela. Às 15h37, o painel eletrônico da Câmara registrava a presença de 237 deputados. Ainda longe dos 342 necessários.
Ninguém disse ainda, talvez por pena, mas Temer foi, por assim dizer, humilhado por seus pseudoaliados. O constrangimernto começou na véspera. Deputados da banda sonegadora da Câmara exigiram que o presidente sancionasse o projeto do Refis, que parcela dívidas tributárias em prazos e condições camaradas.
O ex-deputado mensaleiro Valdemar Costa Neto, que controla o PR como um cartório pessoal, também exigiu que Temer cumprisse o compromisso de retirar Congonhas do rol de aeroportos sujeitos à privatização. As duas exigências foram atendidas no Diário Oficial desta quarta-feira.
Entre os governistas que brincam de esconde-esconde com o governo no plenário, há mais de uma dezena de comandados de Costa Neto. Quer dizer: Temer comprou o apoio, pagou antecipadamente e tem que desembolsar um pouco mais para receber a mercadoria.
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