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Josias de Souza

Brasília deve virar uma Chicago sem Al Capone

Josias de Souza

01/11/2017 21h47

O ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, deixou Michel Temer numa situação esquisita. Diante da decisão da Câmara de congelar a denúncia que acusa o presidente de compor uma organização criminosa do PMDB, o ministro enviou para a primeira instância o pedaço do processo que não trata de Temer. Sem foro privilegiado, foram para o caldeirão de Sergio Moro o ex-ministro Geddel Vieira Lima, os ex-presidentes da Câmara Eduardo Cunha e Henrique Alves e o ex-assessor da Presidência Rodrigo Rocha Loures, o homem da mala.

Esses personagens têm algo em comum: são íntimos de Michel Temer. Nos áureos tempos, quando não havia sido descoberto nada sobre eles, integravam a turma do charuto. Frequentavam jantares semanais no Palácio do Jaburu, que terminavam numa roda onde havia muita de fumaça e articulações.

Suponha que Sergio Moro condene Geddel, Cunha, Alves e Loures. Teremos, então, uma organização criminosa seletiva e sem chefe. Os ministros palacianos Moreira Franco e Eliseu Padilha, que também foram contemplados pela Câmara com o congelamento das investigações, continuarão fazendo pose de limpinhos. Temer terá de afirmar que não percebeu o que se passava debaixo do seu nariz. Ele se autocondenará ao papel de bobo. E Brasília ganhará novamente a incômoda aparência de uma Chicago sem Al Capone.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.