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Josias de Souza

Tucanato revive a fábula do sapo e do escorpião

Josias de Souza

10/11/2017 01h12

Nenhum outro partido ilustra de forma tão paradigmática a crise que se abateu sobre a política brasileira do que o PSDB. Nascido de uma costela do PMDB, o partido fazia pose de representante da ética e da modernidade. Até bem pouco, apresentava-se como um contraponto à devassidão do PT. Hoje, frequenta o centro do palco como uma aberração circense: é o primeiro partido da história a ser comandado por um defunto político. Chama-se Aécio Neves. Voltou à vida para matar a presidência interina de Tasso Jereissati.

No momento, o PSDB dedica-se a testar até onde pode ir no seu desprezo pela pela opinião pública. Ao desafiar a própria sorte de maneira tão desassombrada, o tucanato revela que não se deu conta de que a roleta russa também é uma modalidade de suicídio.

Desde que Aécio Neves virou um colecionados de inquéritos criminais, o PSDB teve várias chances de se livrar dele. Na última oportunidade, os senadores tucanos, entre eles Tasso Jereissati, ajudaram a anular as sanções que o Supremo havia imposto a Aécio. Devolveram-lhe o mandato.

Os tucanos comportaram-se como o sapo da fábula, que concorda em ajudar um escorpião a atravessar o rio. No meio da travessia, o escorpião resolve picar quem o socorria. Por quê?, perguntou o sapo. Não resisti, é da minha natureza, respondeu o escorpião. O PSDB, autoconvertido em sapo, afunda num rio de lama abraçado a Aécio, seu escorpião de estimação.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.