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Josias de Souza

Temer joga R$ 15 bi no ralo e apregoa o colapso

Josias de Souza

23/11/2017 05h31

Relator da Previdência, Arthur Maia expõe a versão light da reforma durante jantar no Alvorada

Os deputados que aceitaram o convite de Michel Temer para jantar no Alvorada na noite passada foram submetidos a uma atmosfera indigesta. Ecoado pelo ministro Henrique Meirelles (Fazenda) e por economistas como Marcos Lisboa, o anfitrião trovejou sobre os comensais previsões apocalípticas. Temer declarou no discurso de abertura que a economia sofrerá um "colapso" se a reforma da Previdência não for aprovada. Horas antes, o orador autorizara sua infantaria legislativa a aprofundar o rombo previdenciário em pelo menos mais R$ 15 bilhões.

Enquanto os deputados digeriam a versão lipoaspirada da proposta previdenciária, exposta no Alvorada pelo relator Arthur Maia, o Congresso, reunido em sessão conjunta da Câmara e do Senado, derrotava o presidente. Derrota consentida por Temer. A pretexto de obter o apoio de prefeitos à reforma, o presidente concordara com a derrubada de um veto de sua autoria. Com isso, foi ressuscitada uma mágica chamada "encontro de contas". Prevê que prefeituras penduradas na Previdência poderão abater de suas dívidas os créditos que afirmam ter no governo.

O veto de Temer havia sido encomendado pela equipe econômica. A perda de R$ 15 bilhões é uma estimativa otimista. Numa conta mais salgada, feita pela Confederação Nacional dos Municípios, estima-se que a renegociação reduza as dívidas das prefeituras em até 50%. O espeto cairia de R$ 75 bilhões para algo como R$ 45 bilhões. Nessa matemática, a União deixaria de receber R$ 30 bilhões.

Com as prefeituras quebradas, esses recebimentos eram incertos, diz um apologista de Temer. O importante é aprovar a reforma, acrescenta. O diabo é que nada insinua, por ora, que a Previdência será reformada no atual governo. O Planalto precisa de pelo menos 308 votos na Câmara. Auxiliares de Temer sustentam que ele já dispõe de algo como 250 votos. Juram que compareceram ao jantar do Alvorada quase 200 votos. Quem esteve no recinto contou algo como uma centena de deputados.

Antes do repasto, o governista Fábio Ramalho (PMDB-MG), vice-presidente da Câmara, revelou o que enxerga em sua bola de cristal: "Ninguém vai votar a reforma da Previdência. Se tiver 100 votos é muito." Para desassossego de Temer os prefeitos não votam no Congresso. Os governadores, com quem o presidente almoçou, também já não têm tanta ascendência sobre suas bancadas. pouco já não controlam suas bancadas. Mal comparando, Temer vai ganhando a aparência do sujeito que vende o carro para comprar gasolina.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.