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Josias de Souza

Propaganda sobre Previdência é um desperdício

Josias de Souza

30/11/2017 20h41

O governo criou um outro nome para desperdício de dinheiro público ao batizar de campanha publicitária os vídeos que trombeteiam a reforma da Previdência em rede nacional de televisão. Nesta quinta-feira, a juíza Rosimayre Gonçalves de Carvalho, da 14ª Vara do Distrito Federal, suspendeu a exibição. Por mal dos pecados, tomou a decisão certa pela razão errada.

A juíza vetou a campanha a pedido de guildas sindicais que representam servidores públicos. Entre eles auditores fiscais da Receita Federal. Alegam que a publicidade é ofensiva. Bobagem. As peças atacam não os servidores, mas os privilégios concedidos a eles e sonegados aos trabalhadores da iniciativa privada. Por exemplo: integralidade, eufemismo para pensão igual ao último salário; e paridade, sinônimo de reajustes iguais aos concedidos aos servidores ativos.

Não é o conteúdo que faz da campanha uma variante da velha prática de jogar dinheiro público pela janela. O desperdício decorre da inutilidade da iniciativa. Na prática, o governo torra milhões para informar ao povo, composto de ignorantes criaturas, sobre as vantagens de uma reforma que o Planalto sabe que não sairá do papel.

Temer se jacta de presidir um governo semiparlamentarista. Mas não dispõe de 308 votos para prevalecer no plenário da Câmara. É certo que o Planalto comunica-se porcamente. Mas o que impede a decolagem da reforma previdenciária é a falta de votos no Congresso, não o déficit de comunicação. Para livar-se de denúncias criminais, Temer comprou a lealdade de congressistas com emendas e cargos. Para salvar o país da ruína previdenciária, faltam-se argumento$. Nessa hora, o presidente mais impopular da história se lembra de que a sociedade existe.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.