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Josias de Souza

Dodge questiona Gilmar sem mencionar suspeição levantada no STF por Janot

Josias de Souza

04/12/2017 20h02

Pela primeira vez desde que assumiu o posto de procuradora-geral da República, em setembro, Raquel Dodge questionou frontalmente uma decisão do ministro Gilmar Mendes. Em petição protocolada no Supremo Tribunal Federal ela pede a revogação do habeas corpus que colocou em liberdade Jacob Barata Filho, o Rei do Ônibus' do Rio de Janeiro. O mesmo personagem motivou um pedido de suspeição contra Gilmar, formulado pelo ex-procurador-geral Rodrigo Janot. Mas Dodge se absteve de renovar as suspeitas levantadas pelo antecessor. Preferiu confrontar Gilmar com um arsenal técnico.

Gilmar Mendes é padrinho de casamento de Beatriz Barata, filha do monarca do ônibus. Nessa condição, argumentou Janot, o ministro deveria ter declarado sua suspeição para atuar nos processos protagonizados por Barata Filho. Gilmar deu de ombros. Já mandou soltar Barata Filho três vezes. E a ministra Cármen Lúcia, presidente da Suprema Corte, mantém preso em sua gaveta o pedido de impedimento formulado por Janot. Aguarda um parecer da própria Raquel Dodge. Pelo regimento do Supremo, a questão tem de ser julgada pelo plenário do tribunal.

Alheia ao contencioso aberto pelo antecessor, Dodge pediu a revogação do novo habeas corpus expedido por Gilmar por razões técnicas. Desta vez, o ministro revogou, de uma tacada, duas ordens de prisão contra Barata —uma da 7ª Vara Federal do Rio e outra do TRF-2. A procuradora-geral sustenta que o segundo mandado de prisão, do TRF-2, refere-se à Operação Cadeia Velha, um processo que corre no Supremo sob os cuidados de outro ministro, Dias Toffoli. Gilmar não teria competência para tomar decisões monocráticas (solitárias) neste caso.

Pressionando aqui, você chega à íntegra da petição de Raquel Dodge. Clicando aqui, você lê uma notícia com os detalhes da encrenca. Empurrada pela força-tarefa da Lava Jato no Rio, a sucessora de Janot reabre o contencioso da procuradoria-geral com o maior crítico do Ministério Público no Supremo. Resta saber até onde Dodge esta disposta a esticar a corda. Amigo e conselheiro de Temer, Gilmar avalizou a decisão do presidente de indicar a sucessora de Janot, segunda colocada na lista tríplice que emergiu de uma eleição interna da corporação. No topo da lista estava o procurador Nicolao Dino, o preferido de Janot.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.