Votação da Previdência em 2017 é improvável
Até os ácaros do tapete do salão verde da Câmara já sabem que o Planalto não dispõe de votos para aprovar a reforma da Previdência, mesmo na versão atual, lipoaspirada. Nos últimos dias, vende-se a ideia de que o governo coleciona adesões que o aproximariam dos 308 votos necessários. Nessa versão, já haveria no cesto da reforma algo como 260 ou 270 votos. É lorota. Se fosse votada hoje, a emenda constitucional sobre a Previdência arrastaria pouco mais de cem votos. Deve-se a contabilidade do governo a uma matemática criativa.
Há na Câmara, 513 deputados. Excluindo-se os oposicionistas, refratários à reforma, os deputados que se dispõem a aprovar a emenda constitucional em qualquer circunstância somam pouco mais de uma centena. O resto, embora não seja avesso à reforma, prefere adiar a votação. Para não ficar mal com o Planalto, alguns deputados que integram a banda pró-adiamento dizem que considerariam a hipótese de votar a favor se houvesse a certeza de aprovação. E o governo contabiliza essa gente na coluna dos votos indubitáveis. Daí a conta que chega à marca fantasiosa de até 270 votos.
Brinca-se de esconde-esconde em Brasília. De dentro do armário, os governistas declaram-se a favor da reforma porque suspeitam que Michel Temer não conseguirá levar 308 votos à vitrine. Não haveria, portanto, razões para se expor. O Planalto, por sua vez, finge que coleciona votos sem dar nome aos votantes. Dono da pauta de votações, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, diverte a plateia —ora diz estar pessimista, ora declara ter acordado realista. Enquanto isso, esquiva-se de marcar o dia de uma votação que sabe ser improvável.
Para saltar do papel, a versão mequetrefe de reforma da Previdência proposta pelo governo teria de atravessar dois turnos de votação na Câmara e dois turnos no Senado. Foi para as cucuias a hipótese de realizar duas votações na Câmara antes do recesso parlamentar do final de ano. Está prestes a ir para o beleléu a chance de os deputados aprovarem a matéria pelo menos em primeiro turno.
Hoje, o mais provável é que tudo seja transferido para 2018. O que dificultará ainda mais a aprovação. Os deputados já começam a ajustar o discurso. Até aqui, diziam que não queriam correr o risco de cutucar o eleitor com o pé para ver se ele morde. Agora, alguns começam a sustentar a tese segundo a qual a reforma da Previdência é tão importante que precisa ser debatida na campanha presidencial, para ser encaminhada por um presidente que tenha passado pela pia batismal das urnas.
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