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Josias de Souza

Caso da Camargo Corrêa não é um bom exemplo, mas oferece fantásticos avisos

Josias de Souza

19/12/2017 00h32

O acordo de leniência firmado pela Camargo Corrêa com o Cade acomoda na entrada do ano eleitoral de 2018 um lixo que já poderia ter sido processado. Em 2009, a mesma Camargo Corrêa foi apanhada numa versão menor da Lava Jato. Chamava-se Operação Castelo de Areia. Foi anestesiada no STJ e sepultada no STF. Evidências de promiscuidade entre políticos e empresários foram reduzidas a tecnicalidades processuais.

Naquele ano de 2009, estava em evidência, por exemplo, um político chamado Micher Temer. Acabara de assumir a Presidência da Câmara pela terceira vez. O nome de Temer aparecia 21 vezes em planilhas apreendidas na casa de um executivo da construtora. Os papeis indicavam o repasse de US$ 345 mil entre 1996 e 1998. Temer declarou-se ofendidíssimo. E tudo foi enterrado sem investigação.

O tempo passou. Sobreveio a Lava Jato. Fracassaram as tentativas de intoxicar os processos de Curitiba. Os barões da própria Camargo Corrêa já amargaram condenações de Sergio Moro. Mas uma coisa não mudou: os larápios graúdos lutam para manter seus pescoços nos tribunais superiores. Ali, são mais valorizados não os advogados que conhecem as leis, mas os que têm acesso aos ouvidos dos magistrados, suscetíveis aos famosos embargos auriculares.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.