Temer ajusta intervenção ao marketing eleitoral
Deflagrada em segredo na terça-feira e concluída na madrugada de sexta-feira, a articulação que transferiu de Luiz Fernando Pezão para Michel Temer os poderes para governar a segurança pública no Rio de Janeiro foi marcada pelo improviso. Mas num ponto a assessoria do Planalto caprichou: a divulgação. Convocou-se o marqueteiro Elsinho Mouco, que serve ao PMDB e à Presidência. A operação ganhou volume de campanha e timbre de propaganda eleitoral.
Em princípio, cogitou-se anunciar a intervenção por meio de um comunicado oficial do Planalto. Mas optou-se por bater bumbo. Com método, organizou-se uma solenidade para Temer discursar.
Mais: reservou-se espaço nas emissoras comerciais para assegurar que a primeira incursão da intervenção federal fosse uma invasão de Temer à sala-estar dos brasileiros. Não apenas no Rio, mas em todos os Estados, numa rede nacional de rádio e TV.
O discurso noturno, colado ao Jornal Nacional, foi um repeteco mais enxuto do pronunciamento feito no final da manhã. Foi como se Temer e sua marquetagem quisessem impor sua própria edição ao telejornal da Globo.
A autopromoção prosseguirá neste sábado. Temer voará para o Rio de Janeiro. A pretexto de "apresentar" à sociedade fluminense o interventor, general Walter Souza Braga Neto, Temer desfilará pelo palco de sua intervenção. Deseja ver e, sobretudo, ser visto.
Tudo na intervenção do Rio foi improvisado: reuniões de emergência, viagem de última hora para dobrar resistências do subgovernador Pezão… Até o decreto enviado ao Congresso foi redigido às pressoas, em cima do joelho, como se diz. Só o marketing foi planejado com esmero.
Nas últimas horas, Temer ganhou orelhas de candidato, nariz de candidato, boca de candidato à reeleição. Mas o Planalto ainda vende ao país a ilusão de que se trata apenas de um presidente genuinamente preocupado com a segurança do Estado do Rio de Janeiro.
Na noite desta sexta-feira, em reunião com oficiais do do alto comando das Forças Armadas, no Planalto, Temer assegurou que a intervenção no Rio não será "politizada". De fato, não será. Já foi.
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