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Josias de Souza

STF mira em Jucá e o tiro resvala em Meirelles

Josias de Souza

13/03/2018 19h12

Numa trapaça do destino, no mesmo instante em que articula a transferência de Henrique Meirelles do PSD para o (P)MDB, o senador Romero Jucá foi convertido em réu pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal. Ao se colocar inadvertidamente na linha de tiro, o ministro da Fazenda tem a chance de perceber que a ideia de se transferir para o partido de Michel Temer o obriga a fazer a contabilidade do seu projeto presidencial todos os dias. Pode ser que amanhã, antes mesmo de inaugurar seu novo empreendimento político, Meirelles já não tenha caixa.

O ativo de Meirelles é mixuruca. Ele frequenta as pesquisas com apenas 1% das intenções de voto. A despeito disso, o ministro da Fazenda se dispõe a fazer durante a campanha eleitoral a defesa do legado de Temer, um presidente reprovado por oito em cada dez brasileiros. Meirelles cultiva a ilusão de que passará a campanha exibindo nos debates o que imagina ser o seu grande ativo: o fim da recessão. Começa a se dar conta de que levará para a disputa também o rastro pegajoso do (P)MDB, que inclui de Temer a Jucá, passando por um interminável etcétera.

Na sua célebre conversa com o delator Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, Jucá parecia profético: tem que mudar o governo para "estancar a sangria", num grande acordo nacional, "com o Supremo, com tudo." Hoje, o apologista da candidatura presidencial de Meirelles arrasta 13 processos criminais. Três já evoluíram para o estágio da denúncia. Agora, um chega à fase da ação penal.

A sangria pode não ter virado hemorragia. Mas o fluxo de sangue se manteve contínuo. E pode aumentar se o Supremo concluir o julgamento em que já foi alcançada a maioria a favor da flexibilização do foro privilegiado. Como disse certa vez o próprio Jucá, "se acabar o foro, é para todo mundo. Suruba é suruba." É nesse pântano moral que Meirelles cogita estacionar sua projeto presidencial.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.