Temer cancela balanço cenográfico da intervenção federal no Rio de Janeiro
Michel Temer cancelou o balanço festivo que faria da intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro. Concluiu que, depois do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), vangloriar-se de eventuais avanços obtidos no primeiro mês da ação comandada pelo general-interventor Braga Netto seria como tocar trombone sob um telhado de vidro. Marcado antes do fuzilamento da líder política e do motorista dela, a celebração ocorreria no domingo, às 10h, no Rio. Mas o presidente suspendeu a viagem.
A intervenção na segurança do Rio completa um mês nesta sexta-feira. Improvisada, entre um Carnaval carioca marcado por cenas de violência e a Quarta-feira de Cinzas, a iniciativa serviu para que o governo virasse a página do fiasco que estava prestes a amargar na reforma da Previdência. Como previsto por Elsinho Mouco, o marqueteiro de Temer, o Planalto colheu um resultado instantâneo.
Pesquisas feitas para consumo interno indicaram que a intervenção obtivera taxa de aprovação superior a 80%. Inebriados, alguns auxiliares e aliados do governo tornaram-se apologistas da candidatura de Temer à reeleição. Contra esse pano de fundo, o que o governo sinaliza ao cancelar a cerimônia de balanço da intervenção é que, sob Temer, as coisas não são certas ou erradas. Elas são absorvidas positivamente ou pegam mal.
No caso do Rio, o governo mantém o discurso otimista diante das câmeras. Entre quatro paredes, contudo, o Planalto começa a avaliar que a intervenção talvez não produza os dividendos políticos que Temer e auxiliares como o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) já haviam lançado na coluna de ativos. Isso costuma acontecer quando gestores públicos governam fazendo uma opção preferencial pela marquetagem.
Temer poderia se reposicionar em cena se decidisse adotar um comportamento de presidente. Nessa hipótese, ele manteria a cerimônia que havia programado para domingo. Retiraria dela todo o caráter cenográfico. Convocaria a imprensa para declarar que não se dispõe a fazer mágicas no Rio. Faria um balanço realista.
O presidente informaria qual é, afinal, o orçamento da intervenção, até hoje um mistério. E encerraria sua manifestação, fronte alta, dizendo que a brutalidade cometida contra a vereadora do PSOL e seu motorista reforçam o ímpeto do governo para higienizar as polícias fluminenses e enfrentar a bandidagem. Mas para que tudo isso ocorresse seria necessário que, por trás da faixa de presidente, houvesse uma noção qualquer de autoridade e interesse público.
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