Topo

Josias de Souza

Sem verba, general-interventor vira generalidade

Josias de Souza

19/03/2018 19h25

Em reunião com deputados, o general-interventor Braga Netto informou que o buraco orçamentário da segurança pública no Rio de Janeiro é de R$ 3,1 bilhões. Aos repórteres, Michel Temer declarou que Brasília cogita borrifar na contabilidade da intervenção federal algo entre R$ 600 milhões e R$ 800 milhões. Esse tipo de desencontro contábil acontece quando o Planalto faz uma opção preferencial pelo populismo e pela marquetagem.

No alvorecer do segundo mês da guerra que declarou contra o crime organizado, Temer começa a se dar conta de que a falta de dinheiro é o caminho mais curto para Waterloo. Em privado, oficiais do alto comando do Exército cobram o compromisso assumido por Temer de garantir os meios para que a intervenção fosse efetiva, não um mero lance eleitoral.

A equipe econômica leva o pé à porta. Sustenta que a cifra que Braga Netto acomodou sobre a mesa inclui despesas da responsabilidade do governo do Rio. Por exemplo: folha salarial dos policiais e dívidas atrasadas. A União não pode arcar com tais despesas. Por duas razões: 1) não há previsão orçamentária; 2) haveria no dia seguinte uma fila de governadores na porta do Tesouro Nacional.

As desavenças orçamentárias vieram à luz 33 dias depois do início da intervenção. Mais uma evidência de que a iniciativa foi improvisada para retirar Temer da agenda negativa em que cintilava o fiasco da reforma da Previdência. O problema é que, sem verba, o interventor Braga Netto, tido como homem certo, logo será tratado como mais um certo homem. Já se sabia que Temer é uma temeridade. O general está prestes a virar generalidade.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.