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Josias de Souza

Aliados de Alckmin apontam 'jogo duplo' de Doria

Josias de Souza

27/04/2018 04h58

Gente que apoia a pretensão presidencial de Geraldo Alckmin terminou a semana aconselhando o candidato do PSDB a tomar cuidado com o pupilo João Doria. Acusam-no de fazer "jogo duplo". Nessa versão, Doria concorre ao governo de São Paulo, mas promove uma manobra silenciosa para tentar substituir Alckmin na futura chapa do PSDB à sucessão presidencial.

Até a semana passada, vigorava no tucanato a sólida superstição de que Doria havia casado seu projeto estadual com o plano federal de Alckmin. Mas depois que o ex-prefeito paulistano encontrou-se com Michel Temer, na semana passada, disseminou-se na cúpula do PSDB a suspeita de que, no seu caso, a felicidade conjugal só é possível a três.

De repente, ganhou o noticiário a versão de que Doria teria discutido com Temer a hipótese de o PMDB apoiar Alckmin, indicando Henrique Meirelles para vice. Como parte do acordo, o presidente da Fiesp Paulo Skaf desistiria de disputar o Palácio dos Bandeirantes, anunciaria o apoio a Doria e comporia a chapa estadual como candidato ao Senado.

O problema é que chegou aos ouvidos de um par de grão-tucanos a informação de que um pedaço do PMDB deseja aliar-se ao PSDB desde que a candidatura de Alckmin seja trocada pela de Doria. Alega-se que, no momento, as pesquisas indicam que o afilhado tem mais votos do que seu padrinho político em São Paulo, maior colégio eleitoral do país. Nessa construção, Doria viraria candidato à Presidência. E o tucanato apoiaria o peemedebista Skaf na corrida pelo governo paulista.

Um dos tucanos que passaram a olhar de esguelha para Doria disse ao blog que Alckmin não deu muito crédito ao falatório. O interlocutor ficou com a impressão de que o presidenciável tucano, hoje acomodado no cargo de presidente nacional do PSDB, avalia ter o controle da máquina partidária. Assim, ainda que desejasse, Doria não conseguiria aplicar-lhe uma rasteira.

De resto, Alckmin sinalizou a intenção de alargar o fosso invisível que o separa do governo de Michel Temer. Por duas razões. Primeiro, não cogita escolher Henrique Meirelles como candidato a vice-presidente na sua chapa. Prefere o ex-ministro da Educação Mendonça Filho, do DEM, ou o ex-tucano Alvaro Dias, hoje candidato ao Planalto pelo Podemos.

A segunda razão é que Alckmin não tem a intenção de enganchar sua candidatura à figura tóxica do presidente. De acordo com o Datafolha, 86% dos eleitores brasileiros informaram que não votariam num candidato apoiado por Temer.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.