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Josias de Souza

Prisão de José Dirceu ganhou ar de normalidade

Josias de Souza

18/05/2018 18h46

A prisão de José Dirceu esteve a um milímetro do tédio. Sabia-se desde a véspera que o condenado se entregaria na tarde desta sexta-feira, até as 17h. Mas apenas os repórteres fizeram plantão defronte do prédio onde Dirceu arrastava sua tornozeleira eletrônica, em Brasília. Nada de militantes petistas. Nem sinal de opositores. Reinava no ambiente uma doce normalidade.

Cerca de 20 devotos petistas estiveram na Superintendência da Polícia Federal. Mas o condenado preferiu entregar-se na penitenciária brasiliense da Papuda, sonegando à plateia companheira a habitual cenografia do perseguido.

Protagonista dos dois maiores escândalos de corrupção da história republicana, Dirceu coleciona, por ora, três condenações —uma no mensalão e duas no petrolão. No encarceramento que se seguiu à condenação no julgamento do Supremo, em 2013, havia uma revolta da militância, que Dirceu atiçou erguendo o braço esquerdo, com o punho cerrado em sinal de resistência.

No ano passado, após obter habeas corpus na Segunda Turma do Supremo, Dirceu trocou a prisão preventiva no Paraná pela tornozeleira eletrônica em Brasília. Descobriu na chegada que ser libertado pela Suprema Corte não é sinônimo de ser livre. Foi hostilizado por uma multidão de cerca de 50 pessoas. Parte dos manifestantes invadiu a garagem do prédio de Dirceu. Um destacamento de 15 PMs foi acionado para conter os ânimos.

A atmosfera nesta sexta-feira foi bem diferente. Nenhum acontecimento feriu a rotina ou fez a vida escapar ao controle. Não se ouviram os gritos de solidariedade: "Dirceu, guerreiro do povo brasileiro". Tampouco soou o coro de contrariedade: "Dirceu ladrão, seu lugar é na prisão."

Sentenciado pelo TRF-4, tribunal de segunda instância, o condenado apenas cumpriu a ordem judicial. Tanta normalidade ainda acaba com a retórica petista da "perseguição política".

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.