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Josias de Souza

Por alianças, PT adia formalização das candidaturas aos governos estaduais

Josias de Souza

06/06/2018 05h32

Reunida na noite desta terça-feira, a direção nacional do PT decidiu retardar a formalização de suas candidaturas aos governos estaduais. Em nota divulgada pouco antes da meia-noite, a legenda informou que fez isso "levando em conta as articulações com partidos de centro-esquerda".

Diz a nota: "Considerando as tratativas com os partidos de centro-esquerda e a tática nacional definida pela direção nacional do Partido dos Trabalhadores, de que a centralidade da nossa disputa é a candidatura nacional de Lula  à Presidência da República, a Comissão Executiva Nacional resolve divulgar uma nova agenda pré-eleitoral."

Traduzindo do idioma partidário para o português do asfalto, o que o PT informou, com outras palavras, foi o seguinte: as candidaturas aos governos estaduais, por secundárias, estão subordinadas às conveniências políticas e às necessidades penais de Lula, o primeiro presidiário da história a reivindicar a Presidência da República. Para incluir parceiros na aventura, o PT se dispõe a levar à bandeja o escalpo de seus candidatos nos Estados.

Para a vereadora recifense Marília Arraes, neta de Miguel Arraes, o comunicado da cúpula petista tem a aparência de uma puxada de tapete. Candidata ao governo de Pernambuco, a petista Marília está bem-posta nas pesquisas. Mede forças com o governador Paulo Câmara, do PSB, que pleiteia a reeleição.

Marília equipava-se para formalizar sua candidatura numa convenção estadual marcada para o próximo domingo (10). Quando o jogo parecia jogado, a direção partidária derramou água no chope de Marília. "Todos os encontros estaduais do PT serão adiados para a data de 27 a 29 de julho", anota o comunicado petista. "O encontro nacional que será realizado entre os dias 30 de julho e 5 de agosto."

Com a reeleição ameaçada, Paulo Câmara tenta atrair o PT para sua coligação, retirando Marília Arraes do jogo. Em troca, o PSB rifaria a candidatura de Márcio Lacerda ao governo de Minas Gerais, incorporando-se à caravana petista de Fernando Pimentel, que tenta se reeleger. O petismo federal acha pouco. Reivindica o apoio do PSB a Lula.

O PT arrisca-se a ficar sem nada, pois Márcio Lacerda (PSB), ex-prefeito de Belo Horizonte, não parece disposto a abrir de sua candidatura em favor do petista Pimentel. Ao contrário, Lacerda anunciou nesta terça uma aliança com o PDT de Ciro Gomes, outro presidenciável que tenta obter o apoio e o tempo de propaganda televisiva do PSB.

Enquanto os nós não desatam, Marília Arraes, uma candidata competitiva, foi amontoada pelo PT numa lista de azarões: "Até que as tratativas com os demais partidos sejam acordadas, estão mantidas as pré-candidaturas aos governos estaduais, a exemplo de Fátima Bezerra, no Rio Grande do Norte; Marília Arraes, em Pernambuco; Luiz Marinho, em São Paulo; Dr. Rosinha, no Paraná; Miguel Rossetto, no Rio Grande do Sul;  Paulo Rocha, no Pará; Décio Lima, em Santa Catarina, dentre outras." Onde se lê "estão mantidas" leia-se "estão no balcão para negócio…"

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.