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Josias de Souza

Fim da polarização PT-PSDB retarda coligações

Josias de Souza

11/06/2018 21h36

A quatro meses da eleição presidencial, a negociação das coligações partidárias está completamente indefinida. Isso acontece porque a Lava Jato pulverizou o protagonismo do PT e do PSDB. Desde 1994, esses dois partidos polarizavam as disputas presidenciais. Depois de 24 anos, perderam a condição de pólos automáticos de atração. Com Lula preso e inelegível, os aliados do PT foram cuidar da vida. Com Alckmin e o estado-maior tucano dentro do caldeirão em que fervem as reputações políticas, os parceiros do PSDB também testam alternativas.

Assim como os partidos, o eleitorado retarda suas definições. Na mais recente pesquisa do Datafolha, veiculada neste final de semana, o índice que ocupa o topo do ranking é justamente o percentual de votos brancos, nulos ou indecisos: 34% no total. A marquetagem dos partidos se desdobra para fisgar esses eleitores sem candidato. Mas, por enquanto, ninguém conseguiu romper a nuvem de raiva e desalento que intoxica o humor de mais de um terço do eleitorado.

Pela primeira vez desde a redemocratização há um candidato de extrema-direita, Jair Bolsonaro, com reais chances de vitória. Preteridos em disputas anteriores —Ciro Gomes e Marina Silva— fazem pose de alternativas. Eles se mantêm vivos nas pesquisas eleitorais. Falta-lhes, porém, estrutura partidária. O tempo de propaganda televisiva de Bolsonaro e Marina é de apenas 10 segundos cada um. Ciro tem 33 segundos.

Para ampliar a vitrine eletrônica, é preciso fazer alianças. Bolsonaro, que se diz limpinho, flerta com o PR do ex-presidiário Valdemar Costa Neto. Ciro, que se declara de esquerda, namora com o liberal DEM. Aos pouquinhos, o seminovo vai ganhando uma aparência muito antiga. Logo virão os anúncios de casamentos de jacarés com cobras d'água.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.