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Josias de Souza

DEM e centrão preparam o ‘mata-mata’ de 2018

Josias de Souza

20/06/2018 16h52

Assim como a Copa do Mundo, que se encaminha da fase de grupos para as oitavas-de-final, a sucessão presidencial brasileira também ensaia uma mudança de ciclo. Evolui da etapa dos pontos corridos, em que os candidatos acumulam percentuais nas pesquisas, para a temporada do 'mata-mata', na qual cada lance ganha ares de confronto final.

No momento, cinco partidos políticos ensaiam um desses lances categóricos, peremptórios da disputa eleitoral. Cavalgando um tempo de propaganda capaz de fazer a diferença na fase televisiva da campanha, o DEM e seus aliados do centrão (PP, Solidariedade, PR e PRB) tentam operar como um único time.

Juntas, as legendas percorrem o campo a procura de negócios. Colocaram dois presidenciáveis na roda: Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB). Ambos frequentam as mesas de refeições do grupo sem medo de indigestão. Ciro jantou com DEM e Cia. na noite de terça. Alckmin tomou café da manhã com o DEM nesta quarta.

Desprezado pelo petismo, Ciro já avisara que não seria candidato a madre superiora do convento. Sua movimentação demonstra que a frase não era uma provocação gratuita a Marina Silva, a presidenciável casta da Rede. Ciro falava sério.

Alckmin costumava dizer: quem só ambiciona o poder erra o alvo. Estacionado nas pesquisas e acossado em São Paulo, seu quintal, por Marina Silva e, sobretudo, por Jair Bolsonaro, o tucano começa a adotar um novo lema: quem não ambiciona abertamente o poder vira alvo.

As articulações devem se arrastar até o final da Copa. No momento, Alckmin é o candidato favorito a atrair o centrão e seu tempo de TV para dentro de sua coligação. Mas Ciro já admite ajustar seu ideário para alterar o rumo do jogo, mandando para a linha de fundo o mesmo PT que o escanteia.

Visto da arquibancada, o jogo sucessório tem alguma semelhança com uma partida de futebol. A diferença é que o campo ideológico não é demarcado, incoerência e gol contra contam a favor e jogadores interditados pela Lava Jato transitam livremente pelo campo, sem que nenhum juiz os expulse. O mata-mata é um vale-tudo.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.