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Josias de Souza

Não é unânime no PT a adesão à tática de Lula

Josias de Souza

05/08/2018 04h12

As máscaras de Lula que o PT aplicou sobre o rosto de seus militantes deu à convenção nacional do partido uma aparência de uniformidade. "Somos milhões de Lulas, como ele pediu", discursou Gleisi Hoffmann. Contudo, a euforia numérica da presidente do PT e o nivelamento teatral da multidão não traduzem com precisão o que se passa nos subterrâneos do partido. Ali, uma minoria inquieta manifesta contrariedade com a tática eleitoral ditada pelo bunker carcerário de Curitiba.

A banda dos insatisfeitos inclui, entre outros grão-petistas, Jaques Wagner e Tarso Genro —ambos serviram ao governo Lula como ministros. Um petista explicou ao blog: "Somos todos solidários a Lula. Mas isso não nos impede de enxergar a realidade. O que une os divergentes é a percepção de que o freio imposto por Lula, retardando o Plano B, prejudica o partido. O que divide o grupo é a falta de consenso quanto ao melhor plano alternativo."

O incômodo da ala minoritária aumentou depois que Lula deu uma rasteira em Ciro Gomes, empurrando o PSB para fora da coligação do presidenciável do PDT. Um pedaço da oposição interna avalia que, em vez de hostilizar, Lula deveria considerar a hipótese de uma aliança com Ciro ainda no primeiro turno. Outra banda não se conforma com o custo do acerto de Lula com o PSB. Foi ao mar a competitiva candidatura da petista Marília Arraes ao governo de Pernambuco.

Proliferam também as críticas à decisão de Lula de retardar a indicação do candidato a vice na chapa do PT. O grande receio é o de que, cutucado por Lula com o pé, o Tribunal Superior Eleitoral resolva morder o PT. No limite, conforme avaliação dos técnico do tribunal, o PT pode ser privado de participar da eleição presidencial.

A chance de Lula levar em conta as opiniões da minoria inquieta é pequena. No momento, a prioridade de Lula é Lula. A segunda prioridade de Lula também é Lula. Pelos seus planos, quando o registro de sua candidatura esbarrar na Lei da Ficha Limpa, Lula lançará um poste. Se o escolhido for bem sucedido, seu sucesso e seu mandato pertencerão a Lula. Se o poste tropeçar nas urnas, Lula continuará desempenhando o seu melhor papel. O papel de vítima.

Nesse enredo, se o TSE excluir o PT das urnas, oferecerá a Lula mais matéria-prima para a tese da perseguição política.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.