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Josias de Souza

PSDB de Alckmin se junta a Collor em Alagoas

Josias de Souza

07/08/2018 03h33

Candidato a vice na chapa de Collor, o tucano Kelmann Vieira (de amarelo) celebra a aliança tóxica

A radioatividade da aliança de Geraldo Alckmin com o centrão alastra-se da seara nacional para os Estados. Em Alagoas, o PSDB do presidenciável tucano cedeu seu tempo de propaganda no horário eleitoral para um personagem tóxico: Fernando Collor, candidato ao governo do Estado. O acerto do tucanato com Collor compôs o pacote de exigências do PP na negociação que encostou o centrão em Alckmin.

Em Alagoas, o PP é comandado pelo senador Benedito de Lira, que integra a chapa de Collor como postulante à reeleição para o Senado. O PSDB se estruturava para lançar seu próprio candidato ao governo estadual. Contudo, rendido à conveniência do projeto nacional, indicou o vereador tucano Kelmann Vieira para ocupar a vice de Collor. E acomodou o deputado estadual Rodrigo Cunha na segunda vaga de candidato ao Senado.

Até ontem, o tucanato alagoano era inimigo de Collor. Ex-presidente nacional do PSDB e ex-governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho, conversou com Alckmin para tentar impedir a aliança. Teve de engolir o sapo. Despejou no Facebook algo muito parecido com o resultado de uma indigestão: "Desde o primeiro instante, manifestei minha posição contrária a aliança do PSDB com o PTC de Collor, sobretudo pela forma impositiva como ela ocorreu. Os meus correligionários sabem que não voto em Collor em nenhuma hipótese."

A despeito da cara feia, Teotônio parece rendido à evidência de que, em política, nada se cria, nada se transforma, tudo se ajeita. "Continuarei trabalhando firme para elegermos as nossas candidaturas na eleição deste ano, as proporcionais, a de Rodrigo Cunha ao Senado e a de Geraldo Alckmin à Presidência do Brasil."

Escorraçado do Planalto em 1992, no primeiro impeachment da história, Collor frequenta novamente as manchetes político-policiais. Seu conflito com a ética detectado pela Lava Jato. Ex-inimigo figadal do petismo, Collor tornou-se nos 13 anos de poder petista um feliz apoiador das gestões de Lula e Dilma Rousseff. Em retribuição, participou do saque à Petrobras.

Denunciado pela Procuradoria-Geral da República por corrupção e lavagem de dinheiro, Collor foi convertido em réu pelo Supremo Tribunal Federal. Enquanto aguarda o veredicto, vai à sorte das urnas em Alagoas com o inusitado apoio do PSDB. Collor não tem muito a perder, pois seu mandato de senador vigora até 2022. Derrotado, volta para os arredores dos cofres brasilienses.

Antes de entrar na briga pelo governo alagoano, Collor foi malsucedido numa articulação para indicar o vice na chapa do governador Renan Filho, que pleiteia a reeleição. Primogênito do senador Renan Calheiros, o governador alardeia em sua campanha o apoio do PT de Lula. Se realizar incursões eleitorais em Alagoas, Alckmin não terá com ignorar Collor.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.