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Josias de Souza

Insultado por Ciro, Eunício se junta a Cid Gomes

Josias de Souza

16/08/2018 13h17

Eunício se junta a Cid, cujo irmão o chama de 'corrupto', e Camilo, cujo partido o tacha de 'golpista'

O presidenciável Ciro Gomes (PDT) costuma dirigir ao presidente do Senado Eunício Oliveira (MDB) insultos que, se fossem pronunciados no século 19, só seriam lavados com sangue, num duelo. No mês passado, chamou-o num discurso em Fortaleza de "corrupto", "picareta" e "assaltante dos dinheiros do povo". No entanto, Cid Gomes, irmão e coordenador da campanha presidencial de Ciro, celebrou uma aliança política com o malfeitor. Eunício divulgou nesta quarta-feira o clipe de sua campanha. Nele, Cid aparece do seu lado, com um sorriso nos lábios.

Cid Gomes e Enício Oliveira já haviam se aliado quando o irmão de Ciro governou o Ceará. Rompidos, participaram da campanha de 2014 em palanques opostos. Reconciliados, juntaram-se agora, em 2018, para concorrer às duas vagas de senador em disputa no Ceará. Os dois integram a chapa encabeçada pelo governador cearense Camilo Santana, do PT. Camilo pleiteia a reeleição. E também não hesitou em dar as mãos a Eunício, personagem que o petismo nacional tacha de "golpista" por ter votado a favor do impeachment de Dilma Rousseff. (veja abaixo o clipe que exibe a imagem dos três, sob os dizeres: "Juntos pra fazer."

No último dia 12 de julho, num ato partidário do PDT em Fortaleza, Ciro declarou:  "…Toda a minha agressividade é contra a ladroeira. Já fui processado pelo Michel Temer, já fui processado pelo Eduardo Cunha, já fui processado pelo Eunício Oliveira —esse aí pelo menos uns 70 processos—, mas não tem um homem de bem que tenha me levado à Justiça. Só o puro corrupto, o puro picareta, o puro assaltante dos dinheiros do povo." (assista abaixo)

Difícil saber quem é inimigo de quem na política. Mas Ciro, irmão zeloso, depois de tantos xingamentos e processos judiciais, talvez devesse ter aconselhado o irmão, coordenador de sua campanha, a manter distância quilométrica do "corrupto", "picareta" e "assaltante dos dinheiros públicos". Do contrário, quem olha de longe pode não distinguir quem é quem. Ou concluir que a política é mesmo o território da farsa.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.