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Josias de Souza

Alckmin inaugura a pregação do voto útil anti-PT

Josias de Souza

11/09/2018 15h01

Geraldo Alckmin inaugurou uma nova fase em sua campanha —a fase do mal menor. Incapaz de demonstrar que não é um candidato ruim, o tucano tenta convencer o eleitor de que há na praça coisa muito pior. Passou a fazer a defesa de um tipo específico de voto útil, aquele que vai para o seu cesto, para evitar que o PT retorne ao poder. Quer reaver um discurso que já do PSDB e que Jair Bolsonaro tomou.

Espremido em sabatina, Alckmin grudou nos rivais Ciro Gomes, Marina Silva, Fernando Haddad e Henrique Meirelles a pecha de "adoradores de Lula". Declarou que Jair Bolsonaro sempre votou "juntinho com o PT" na Câmara. Acrescentou que, hoje, o capitão tornou-se um "passaporte para a volta do PT", pois perde no segundo turno para qualquer adversário, inclusive para os "adoradores de Lula".

Alckmin responsabilizou o PT pela ruína econômica e pelo estouro das contas públicas. Em seguida, acomodou seus rivais no mesmo balaio, apresentando-os como cúmplices do déficit fiscal e do desemprego que enviou 13 milhões de brasileiros para o olho da rua.

"Não começou agora", afirmou Alckmin. A culpa é "do PT e dos adoradores do Lula", prosseguiu. "Ciro, sempre aliado do PT; Marina, 25 anos no PT; Meirelles, ministro do PT; e o próprio Haddad."

Quanto a Bolsonaro, hoje o principal destinatário dos votos que fogem do PSDB, Alckmin disse ter "total discordância em relação às propostas dele." Foi nesse ponto que o tucano analisou o comportamento de Bolsonaro nas votações do Legislativo:

"Sete mandatos de deputado federal sem nenhum projeto de interesse público, você vai verificar que os votos foram sempre juntinho com o PT. Aquela coisa corporativa, atrasada. Votou contra o Plano Real, contra quebra de monopólio do petróleo, contra quebra de monopólio de telecomunicações."

Escorando-se no Datafolha, declarou: "O que a pesquisa mostra? Mostra que no segundo turno, Bolsonaro perde. Perde para mim, perde para o Ciro, perde para o PT. Então, na realidade, é um passaporte para volta do PT. E esse é grande problema."

A pesquisa mencionada por Alckmin mostrou que, nos cenários de segundo turno, Bolsonaro perde por grande margem para todos. E corre riscos contra Haddad, com quem está tecnicamente empatado.

A pesquisa também mostra que Alckmin pode ter entrado numa fria ao trocar a prataria pelos minutos de propaganda dos partidos do centrão no rádio e na TV. Ocupa quase a metade de todo o horário eleitoral. E não consegue demonstrar as próprias virtudes.

Perseverando na nova pregação em favor do voto útil, talvez tenha de reservar parte do tempo da propaganda para explicar por que se juntou a tantos partidos que, até ontem, apoiavam a gestão empregocida de Dilma Rousseff.

De resto, a carapuça de do pró-lulismo também serve para alguns dos aliados de Alckmin. Por exemplo: o presidente do PP, senador Ciro Nogueira, fechou negócio com o PSDB em Brasília e pede votos no Piauí apresentando-se como um convicto "adorador de Lula."

Vai abaixo a íntegra da sabatina de Alckmin:

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.