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Josias de Souza

Haddad tem um cabo eleitoral involuntário: Temer

Josias de Souza

12/09/2018 00h59

Em política, o que te mostram nunca é tão importante quanto o que você consegue enxergar por conta própria. Repare no caso de Fernando Haddad. Ele entrou na disputa presidencial com cara de candidato competitivo. O que te mostram é que a grande alavanca de Haddad é Lula. O que você pode enxergar sozinho, sem grande esforço, é que Haddad dispõe de um segundo cabo eleitoral involuntário. Chama-se Michel Temer.

Quando Dilma Rousseff foi deposta, em 2016, a rotina já havia se transformado em escândalo. A recessão mastigara mais de 11 milhões de empregos. A responsabilidade fiscal fora substituída pelo malabarismo econômico. O Congresso virara uma trincheira hostil. E o Planalto tornara-se o endereço da impopularidade.

Graças ao impeachment, as crises política, econômica e ética migraram para o colo de Temer, um político em processo de autocombustão. Se Dilma ainda fosse presidente, o PT estaria em chamas, Lula seria um presidiário sem audiência e Haddad não receberia do eleitor nem bom dia, que dirá voto. À frente de uma campanha que finge que Dilma não existiu, Haddad encarna o discurso do 'contra-tudo-o-que-está-aí'. E o que está aí é Temer, o vice que Lula impôs a Dilma.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.