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Josias de Souza

UTI desperta ímpeto intervencionista de Mourão

Josias de Souza

13/09/2018 21h26

O drama clínico de Jair Bolsonaro gera dois tipos de sentimento. O primeiro é de solidariedade. O segundo, de apreensão. Sua candidatura oferece um bom resumo da fragilidade institucional do país. Enviado ao topo das pesquisas pela raiva do eleitor, Bolsonaro consolida sua liderança mesmo estando na UTI. E a prosperidade eleitoral produziu um racha na microcoligação do paciente.

Há em torno de Bolsonaro dois partidos. O dele é o PSL, Partido Social Liberal. Todos sabem que não é social. E muitos duvidam que seja liberal. A legenda do vice, o general Hamilton Mourão, é o PRTB, Partido Renovador Trabalista Brasileiro. De renovador não tem nada. De trabalhista, muito menos. Bolsonaro é praticamente um candidato avulso.

A campanha de Bolsonaro está, hoje, nas mãos dos filhos civis e do vice militar. Que brigam por espaço. O general Hamilton Mourão acha que deve substituir o capitão-candidato em eventos como debates na TV, por exemplo. Os filhos de Bolsonaro levam o pé à porta. É como se Mourão, adepto da intervenção militar, ensaiasse um golpe contra alguém que ainda nem chegou ao poder. O Brasil não é mais imprevisível. Tornou-se um país tristemente previsível. É como dizia o popeta Cacaso: "Ficou moderno o Brasil, ficou moderno o milagre: a água já não vira vinho, vira direto vinagre."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.