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Josias de Souza

Rusgas diplomáticas de Bolsonaro custam caro

Josias de Souza

05/11/2018 20h20

No seu desejo de seguir as pegadas de Donald Trump, Jair Bolsonaro coleciona contenciosos internacionais antes mesmo de pendurar no ombro a faixa presidencial. O novo presidente brasileiro compra briga com a China e com os mundos árabe e muçulmano. O problema é que o Brasil não tem a força dos Estados Unidos. E quem não é forte precisa ser pelo menos diplomático. Sob pena de perder relevância política e, sobretudo, dinheiro.

O governo do Egito cancelou visita de quatro dias que o chanceler brasileiros Aloysio Nunes faria ao país entre quinta-feira e domingo. Alegou-se em cima da hora que autoridades egípcias tiveram problemas de agenda. Isso é lorota. Trata-se na verdade de uma reação ao anúncio feito por Bolsonaro de que vai transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém.

Aloysio Nunes viajaria em missão comercial. Pelo menos duas dezenas de empresários brasileiros já estavam no Egito para se incorporar à comitiva do chanceler. O gesto dos egípcios é prenúncio da encrenca que se forma nos mundos árabe e muçulmano, grandes consumidores de carne e frango do Brasil. Atacada por Bolsonaro durante a campanha, a China, nossa maior parceira comercial, também olha para Brasília com um pé atrás. No afã de macaquear Trump, Bolsonaro não se deu conta de que a diplomacia, como o nome indica, só funciona quando é macia.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.