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Josias de Souza

Por Onyx, Jair Bolsonaro adota um redutor ético

Josias de Souza

14/11/2018 20h31

Jair Bolsonaro aplicou um redutor no discurso anticorrupção que havia entoado na campanha eleitoral. Ao comentar a notícia sobre investigação que vincula seu chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, com uma nova suspeita de caixa dois, Bolsonaro declarou: "É muito difícil hoje em dia você pegar alguém que não tenha alguns problemas, por menores que sejam. Os menores, logicamente, nós vamos ter que absorver. Se o problema ficar vultoso, você tem que tomar uma providência".

Onyx já havia admitido, no ano passado, o recebimento de R$ 100 mil no caixa dois na campanha de 2014. Documentos exibidos pela Folha de S.Paulo revelam que delatores da JBS acusaram o ministro de Bolsonaro de apanhar por baixo da mesa outro repasse ilícito de R$ 100 mil em 2012. Onyx chamou o noticiário de "requentado". Atribuiu a novidade a um hipotético "terceiro turno" da disputa presidencial. Ele atacou o jornal, insinuando que tem um viés petista.

É sintomático que tudo isso tenha acontecido no memo dia em que Lula, preso em Curitiba, prestou depoimento no processo sobre o sítio de Atibaia. Ele teve de ser ouvido por uma juíza substituta, Gabriela Hardt, porque o titular, Sergio Moro, trocou a Lava Jato pela perspectiva de levar o combate à corrupção para uma esfera federal, no Ministério da Justiça do governo Bolsonaro.

Onyx pode ser a mais imaculada das criaturas. Mas há um procedimento aberto contra o futuro ministro na Procuradoria da República. E não será com lero-lero ou ataques à imprensa que o ministro irá se explicar. A integridade é como a gravidez. Nenhuma mulher pode estar um pouquinho grávida, assim como não pode haver um político um pouco honesto. Ou Bolsonaro entende que não é hora de fixar gradações para a honestidade ou desmoralizará rapidamente o esforço anticorrupção que Sergio Moro promete implementar.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.