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Josias de Souza

Renan abre fogo: ‘Tasso continua patrimonialista’

Josias de Souza

03/12/2018 19h05

Às voltas com a perspectiva de disputar a presidência do Senado com o tucano Tasso Jereissati, Renan Calheiros inaugurou sua artilharia. Desdenhou das chances do rival. Disse que a candidatura de Tasso "dificilmente se viabilizará". Primeiro porque o MDB, dono da maior bancada, "tem o direito de indicar o candidato". E também por razões morais: "Tasso continua patrimonialista."

Num longo texto divulgado nas redes sociais, Renan anotou que o patrimonialismo que enxerga em Tasso é "tudo o que os brasileiros mostraram não querer mais". Apontado pelos adversários como um senador indigno de voltar ao comando do Senado por colecionar 14 processos criminais, Renan revelou um telefonema que recebeu do grão-tucano que se apresenta como uma alternativa ética.

"Há três meses, eu estava cuidando da campanha em Alagoas e Tasso me ligou desesperadamente para que eu viesse a Brasília aprovar a manutenção do subsídio da indústria de refrigerante", anotou Renan, referindo-se a um dos ramos empresariais a que se dedica a família Jereissati. "Imagine: continua produzindo coca-cola e obrigando os cearenses a pagar 100% do custo da produção, inclusive da água, que nessa indústria representa 98%."

Como que decidido a desqualificar o adversário, Renan insinuou que Tasso não abandonou a prática de converter a verba de passagens aéreas a que os senadores têm direito em querosene de aviação: "E ainda querendo que o Senado continue a pagar o combustível do seu jato supersônico."Renan previu que, se a candidatura de Tasso vingar, derrotará o antagonista tucano dentro do seu próprio partido, o PSDB.

Ciente de que desperta Jair Bolsonaro e seus operadores uma ojeriza incontornável, Renan declarou-se preocupado com o "equilíbrio institucional." Anotou que já deu posse a três presidentes da Repúblicas escolhido em votação direta. Disse ter aprendido que as instituições precisam trabalhar em conjunto: "Ninguém individualmente salva ninguém. Tem que ser uma ação coletiva, nunca isolada".

Reeleito para a segunda vaga de senador pelo Estado de Alagoas, Renan tripudiou sobre os colegas que tropeçaram nas urnas. Tratou a legislatura atual, que se encerra em fevereiro, como um defunto à espera do enterro. Fez pose de herói da resistência, insinuando que trabalha para barrar retrocessos.

"…Dedico-me a fechar a tampa dessa legislatura, que foi varrida pelas urnas. Continuam querendo aprovar o fim da ficha limpa (que o Senado adotou até para a administração); foi o mesmo que fiz quando aprovei a lei das estatais, para impedir aparelhamento político. Continuam querendo entregar a lei geral das telecomunicações (que ministro do STF suspendeu por conta do processo legislativo criminalizado). E ainda tentam aprovar a fictícia cessão onerosa de mais de R$ 100 bilhões, que valerá apenas para 2020."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.