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Josias de Souza

Bolsonaro sinaliza abandono do Acordo de Paris

Josias de Souza

12/12/2018 23h00

Em transmissão ao vivo pela internet, Jair Bolsonaro informou na noite desta quarta-feira que seu governo irá propor "mudanças no Acordo de Paris". E deixou claro qual será o passo seguinte: "Se não mudar, sai fora." Sem citar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que também torce o nariz para o acordo climático, Bolsonaro insinuou que o Brasil estará em boa companhia:

"Quantos países não assinaram esse acordo? Muitos países importantes não assinaram. Outros saíram. Por que o Brasil tem que dar uma de politicamente correto e permanecer num acordo possivelmente danoso à nossa soberania? Nossa soberania jamais estará em jogo."

Bolsonaro declarou que, pelas informações de que dispõe, uma das exigências do acordo prevê que o Brasil terá de providenciar o reflorestamento de uma área maior do que o Estado do Rio de Janeiro até 2030. "Não temos como cumprir uma exigência dessas", disse o capitão.

Para Bolsonaro, não basta assinar "porque é bonito". É preciso levar em conta as sanções. Numa evidência de que enxerga fantasmas onde eles não existem, o presidente eleito insinuou que, no limite, o território brasileiro pode ser invadido:

"…As sanções vêm aí. Num primeiro momento, sanções políticas. Num segundo momento, sanção econômica. Num terceiro momento, sanção de força. Não podemos colocar em risco a nossa soberania nacional, parte do nosso território."

Ecoando o futuro chanceler Ernesto Araújo, Bolsonaro tomou distância do Pacto Global de Migração, que acaba de ser endossado pelo governo de Michel Temer. Embora reconheça que "todos somos imigrantes no Brasil", o descendente de italianos Bolsonaro acha que "não podemos escancarar as portas para [quem quiser] vir numa boa." Ficou entendido que, encerrada a gestão Temer, em janeiro, o Brasil renegará o pacto que acaba de rubricar.

Bolsonaro mencionou a conveniência de evitar a chegada de pessoas com a "cultura totalmente diferente da nossa". A pretexto de oferecer exemplos, disse coisas assim: "Não podemos admitir, aqui, começar a chegar gente de uma determinada cultura e querer casar com as nossas filhas e netas de dez, onze, doze anos de idade, porque isso é a cultura deles."Ou assim: "Não queremos também gente aqui que não respeite religião. Respeitamos todas as religiões."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.