Caixa desmente Bolsonaro sobre sua publicidade
A Caixa Econômica Federal desmentiu em nota oficial dados divulgados por Jair Bolsonaro nas redes sociais. O presidente eleito dissera ter tomado conhecimento de que a casa bancária estatal gastara "cerca de R$ 2,5 bilhões em publicidade e patrocínio neste último ano." Algo que tachara de "absurdo". Em sua resposta, a Caixa escreveu: "O orçamento com recursos do banco projetado para ações de publicidade, patrocínio e comunicação em 2018 foi de R$ 685 milhões, sendo realizado até novembro de 2018 (o valor) de R$ 500,8 milhões".
Reiterando algo que vem dizendo desde a campanha, Bolsonaro prometeu passar na lâmina os gastos promocionais do governo, incluindo bancos públicos e empresas estatais. "Assim como já estamos fazendo em diversos setores, iremos rever todos esses contratos [da Caixa], bem como os do BNDES, Banco do Brasil, Secom [Secretaria de Comunicação da Presidência da República] e outros."
Quanto a esse ponto, a Caixa esclareceu que não realiza gastos a esmo. Vincula-os às suas necessidades mercadológicas: "As ações de comunicação do banco são voltadas para alavancagem de negócios, produtos e serviços e vêm sendo reduzidas desde 2016." A instituição opera no varejo bancário, concorrendo com bancos privados.
A obsessão de Bolsonaro com o orçamento publicitário da União é compartilhada pelos filhos. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) emplacou na Secretaria de Comunicação da Presidência um publicitário que o assessorava em seu gabinete: Floriano Barbosa. Ele ficará subordinado ao ministro-chefe da Secretaria de Governo, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz.
O vereador Carlos Bolsonaro, o filho que cuidou das redes sociais do capitão durante a campanha presidencial, levou ao ar, um dia antes da manifestação do pai sobre a Caixa, um post que dá uma ideia dos planos do novo governo. Aborrecido com o PT e a imprensa, Carlos escreveu, com a sutileza que lhe é peculiar: "Petista é o oxiúrus e grande parte da mídia é o 'cancro'!"
Oxiúrus é um verme, cujo nome científico é enterobius vermicularis. Cancro é uma ferida. Para Carlos Bolsonaro, o que diferencia um do outro é a forma de "combate". Contra o petismo "doses de verdade". Contra a mídia, "corte de verbas."
Bolsonaro, o pai, já havia declarado coisa parecida. Numa entrevista concedida nas pegadas da abertura das urnas, o presidente recém-eleito disse ser "totalmente favorável à liberdade de imprensa". Mas esclareceu: "Temos a questão da propaganda oficial do governo, que é uma outra coisa." Como assim? Veículo de comunicação que se comportar "de maneira indigna não terá recurso do governo federal."
Ficou subentendido que, sob Bolsonaro, haverá uma espécie de Bolsa Mídia, à qual só terão acesso os jornais, revistas, portais ou emissoras de rádio e TV que falarem bem do futuro governo. Algo que Carlos, o 'Zero Dois' do clã presidencial, reforçou ao informar que o "cancro" será tratado na base do "corte de verbas".
No momento, o pedaço "indigno" da imprensa mantém vivo o noticiário sobre a movimentação bancária "atípica" do ex-motorista do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro: R$ 1,2 milhão em um ano. As notícias mencionam os R$ 24 mil repassados à futura primeira-dama Michelle Bolsonaro. Pelos critérios da família, esse tipo de notícia descredencia o veículo, não os personagens que têm dificuldades de se explicar aos brasileiros.
Jair Bolsonaro decerto voltará às redes para esclarecer de onde retirou os dados que a Caixa Econômica tratou como fake news. Poderia aproveitar para explicar os critérios que utilizará no gerenciamento do orçamento publicitário do governo. Hoje, o grosso dessa verba —algo como 60%— sai dos cofres de estatais que concorrem no mercado. Ao escolher os meios de propagação de suas mensagens, deveriam se guiar mais pelo tamanho da audiência do que pela linha editorial.
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