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Josias de Souza

Queiroz não convenceu nem aliados de Bolsonaro

Josias de Souza

27/12/2018 20h05

A entrevista de Fabrício Queiroz ao SBT ateou frustração no escritório de transição de governo. Integrantes do alto comando da futura gestão de Jair Bolsonaro avaliaram em privado que o ex-motorista não conseguiu atingir o objetivo de afastar sua movimentação bancária atípica da família do novo presidente.

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A expectativa inicial era a de que Queiroz, saindo de um sumiço de três semanas, colocasse um ponto final no caso. Entretanto, aliados de Bolsonaro enxergaram a entrevista como um péssimo ponto de partida. Atribuíram o fiasco a um ponto fraco: o excesso de reticências.

Queiroz foi reticente sobretudo ao ser questionado sobre os depósitos feitos em sua conta atípica por oito assessores do gabinete do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro. "Esse mérito de dinheiro eu queria explicar ao Ministério Público."

Membros do futuro governo, entre eles pelo menos um ministro militar, consideraram que, ao dizer que responderá apenas ao Ministério Público, Queiroz aguçou a suspeita de que não tem como oferecer uma resposta aceitável à opinião pública.

Houve alívio com o fato de Queiroz não ter dormido no ponto ao confirmar a versão de Jair Bolsonaro para o repasse de R$ 24 mil à mulher dele: "O nosso presidente já esclareceu. Eu tive um empréstimo de R$ 40 mil. E eu passei dez cheques de R$ 4 mil."

Como o suposto empréstimo não foi declarado ao fisco, os auxiliares de Bolsonaro sustentam que ele deve retificar seu Imposto de Renda. A retificação não apaga o problema. Mas imagina-se que pode reduzir os danos, circunscrevendo o contágio de Queiroz ao gabinete de Flávio, o filho mais velho do presidente.

Causou surpresa na equipe de transição a revelação de Queiroz sobre sua insuspeitada vocação para a compra e revenda de automóveis. É ponto pacífico que, sem uma comprovação documental, o álibi pode sair pela culatra, causando novos transtornos num ponto futuro. Sintomaticamente, Jair Bolsonaro e o filho Flávio não comentaram nas redes a entrevista do ex-assessor e amigo de pescaria.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.