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Josias de Souza

Aliados são principais adversários de Bolsonaro

Josias de Souza

28/12/2018 00h52

No próximo dia 2 de janeiro, passadas as festividades da posse, começa o governo de Jair Bolsonaro. O início da nova gestão será marcado por duas peculiaridades. A oposição está estilhaçada, eis o primeiro traço particular da atual conjuntura política. A segunda particularidade é complementar à primeira: com as forças rivais fragmentadas, os aliados de Bolsonaro assumem, paradoxalmente, a posição de principais adversários do novo presidente.

Em condições normais, o Partido dos Trabalhadores seria um opositor duro de roer nesta largada do governo do capitão. Mas o PT tem outras três prioridades: Lula, Lula e Lula. Enrolado na bandeira do Lula Livre, o partido afugenta até velhos aliados no Congresso. O PSDB que, em tese, poderia se opor a Bolsonaro, está dividido. Um pedaço do tucanato apodrece junto com Aécio Neves. Outra ala, agarrada a João Doria, toma o atalho da direita, que conduz ao colo de Bolsonaro.

Rodeado de inimigos frágeis, Bolsonaro convive com fortes adversários cordiais. São familiares e amigos que se dedicam a demonstrar o seu potencial destrutivo. No pelotão de frente estão os filhos do presidente: Flávio, Carlos e Eduardo Bolsonaro. Os três têm mandatos eletivos, influência junto ao pai e disposição para produzir encrencas. Fornecem ministros precários, assessores atípicos e ofensas típicas.

Além de lidar com os membros de sua própria dinastia, Bolsonaro administra os humores do general Hamilton Mourão, um vice que pode virar versa; e toureia as primeiras reivindicações de seus aliados temáticos, como o pedido da bancada ruralista envolvendo a anistia de uma dívida de R$ 17 bilhões com o Funrural. De resto, líderes de partidos amigos, que julgam ter recebido de Bolsonaro menos atenção do que merecem, aguardam na curva pelos erros do capitão. Com aliados assim, o novo presidente dispensa adversários.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.