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Josias de Souza

No convite para posse há ordem sem progresso

Josias de Souza

30/12/2018 02h25

O lema que adorna a bandeira do Brasil foi extraído de uma frase do filósofo francês Auguste Comte: "O amor por princípio, a ordem por base, e o progresso por fim". Na versão sintética adotada em 1889, nas pegadas da proclamação da República, sumiu o "amor". No convite para que os brasileiros compareçam à posse de Jair Bolsonaro, exposto pelo Planalto nas redes sociais, a bandeira foi desenhada com uma dobra que fez desaparecer também o "progresso".

É como se, num ato falho, a peça do Planalto convocasse os brasileiros para testemunhar o início de uma era de ordem sem progresso. Sintomaticamente, Bolsonaro anunciou nas redes, a poucas horas de vestir a faixa presidencial, o seguinte:"Por decreto, pretendemos garantir a posse de arma de fogo para o cidadão sem antecedentes criminais, bem como tornar seu registo definitivo." Especialistas na matéria receiam que a providência resulte em desordem, não em segurança.

Como se vê, tudo parece conspirar contra o positivismo de Auguste Comte.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.