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Josias de Souza

Eleitor brasileiro entra em 2019 chutando a porta

Josias de Souza

31/12/2018 22h07

Na política, o ano de 2018 foi marcado pelo fim do brasileiro cordial. O sistema político fez o eleitor odiar sua própria passividade. Exausto de ser cavalgado por políticos cuja principal virtude é o cinismo, o eleitor assumiu as rédeas. E acionou a espora. Com uma fome convulsiva de limpeza, o brasileiro saiu da posição de vítima que reclama e assumiu o papel de protagonista que reage contra um ataque —no caso da política nacional, um ataque de desfaçatez.

Pode-se dizer que 2013, quando o asfalto começou a roncar, foi o ano em que o brasileiro caiu em si. Em 2018, com atraso de cinco anos, veio a metabolização. O metabolismo, como se sabe, é o conjunto de transformações químicas e biológicas que produzem a energia necessária ao funcionamento de um organismo. A sociedade brasileira extraiu do apodrecimento da política, exposto na vitrine da Lava Jato, a energia para se mover.

A renovação do Congresso, as surpresas verificadas em alguns Estados e, sobretudo, a eleição de Jair Bolsonaro são tentativas de reação contra a podridão. O apodrecimento foi suprapartidário. A lama arrastou Lula, Aécio, Dilma, Temer, o diabo. As urnas de 2018 forneceram a resposta de quem ficou furioso com os defeitos da democracia —das tentativas de blindagem de corruptos à ineficiência dos serviços públicos.

A fúria não costuma levar à perfeição. O triunfo de Bolsonaro se deve menos às qualidades do novo presidente e mais aos defeitos do sistema. E não se sabe qual será o resultado das novidades enviadas ao Congresso. De modo que o Ano Novo pode ter um quê de velho. E talvez não seja tão próspero, pois o estrago foi grande e o conserto não virá do dia para a noite. Seja como for, o brasileiro entra em 2019 do jeito que escolheu. Já não bate à porta. Chuta. Aprendeu a fazer política com o pé. Desejo a você um 2019 de prósperos pontapés.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.